Jorge Augusto Cury é psiquiatra, psicoterapeuta e escritor. Autor de diversos livros sobre a Inteligência Multifocal, dirige a Academia de Inteligência, um instituto de pesquisa sobre o tema e formação para professores, psicólogos e outros profissionais. Seus livros já foram publicados em mais de quarenta países.
A imagem do teatro e da vida como um espetáculo é o esqueleto o qual o autor reveste sua análise da psique humana. Basicamente duas figuras principais apresentam-se como o ponto-de-vista: o espectador, aquele que se encontra na plateia e acompanha de uma forma passiva tudo o que se passa no palco; o protagonista, ou ator principal, que faz o espetáculo acontecer, surpreendendo a todos que o assistem. A partir dessa construção, o autor convida cada leitor a realizar uma viagem para dentro de si, uma vez que em sua opinião, a evolução tecno-científica ensinou ao homem fazer viagens interestelares, mas ele ainda sente grande dificuldade para viajar dentro de si.
As imagens do espectador e do protagonista são imagens das posturas que cada pessoa assume, fazendo-a identificar-se com um ou outro personagem. Há pessoas que deixam a vida simplesmente acontecer, vivem à mercê dos traumas, fobias, medos e inseguranças que foram desenvolvendo ao longo de suas histórias; exaltam as virtudes de outros sem reconhecerem as próprias; simplesmente aplaudem de suas "zonas de conforto" enquanto outros encaminham decisões que elas mesmas deveriam tomar. Tais pessoas vivem na plateia. Por outro lado, há pessoas que assumem o papel principal de suas vidas; são autoras de suas histórias e co-autoras das histórias de outros; sabem o que fazem, por quê fazem e como devem fazê-lo porque sabem onde querem chegar; possuem o equilíbrio entre os momentos de tensão e as ocasiões de glórias, sem se perderem; são capazes de assumir decisões importantes e abraçar as implicações das mesmas; a vida para elas é um espetáculo agradável de viver. Tais pessoas vivem no palco e são protagonistas de suas histórias.
Na visão de Cury, na sociedade atual, todos são treinados para serem espectadores passivos na plateia de suas vidas. Isso se contrapõe a outra visão, na qual cada se humano é convidado a assumir o roteiro da própria vida, o que para o autor significa: "refazer caminhos, reconhecer erros e aprender a deixar de ser aprisionado pelos pensamentos e emoções doentias" (p. 21). Para isso, Cury sugere algumas técnicas psicológicas para ser líder de si mesmo. A primeira é reeditar a memória, de forma que, sem apagar lembranças doentias ou traumáticas possa inserir experiências agradáveis e prazerosas em seu lugar. Tal técnica é praticada por meio da técnica do DCD (duvidar, criticar, determinar), de forma que a pessoa se torne mais ativa e menos passiva diante do que vive. Em segundo lugar vem as janelas paralelas da memória, de forma que para cada janela doentia que alguém venha abrir, abra-se também uma janela saudável que lhe garanta um autocontrole. Tal técnica é complementada pela mesa-redonda do eu, que consiste em reservar um tempo diário para se dedicar exclusivamente a uma auto-reflexão, debatendo problemas, dificuldades, crises e perdas enfrentados, na perspectiva de traçar novos caminhos que orientem o futuro.
Somente quem cativa a própria vida e assume as rédeas da própria história torna-se capaz de lidar com as emoções e liderar a própria existência. Por ser essencial, é um grande desafio. No entanto, somente quem é líder de si mesmo sabe para onde governa a sua história e compreende toda a carga de sentido que ela tem.
CURY, Jorge Augusto. Seja Líder de Si Mesmo: o maior desafio do ser humano. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. 128 pgs.