domingo, 24 de março de 2013

Jesus, mestre de Nazaré (Aleksandr Mien)

jesus, mestre de nazaré          Aleksandr Mien, padre ortodoxo russo, nasceu em Moscou em 22 de janeiro de 1935. Estudou biologia e ordenou-se sacerdote, exercendo seu ministério junto a intelectuais, músicos, atores, filósofos, poetas e artistas, o que lhe rendeu o nome de “missionário da tribo dos intelectuais”. Também trabalhou em paróquias rurais próximas a Moscou. Na área acadêmica, Mien tornou-se biblicista de renome e publicou várias obras sobre a história das religiões, um dicionário bíblico e diversas publicações sobre as Sagradas Escrituras e a Igreja e liturgia ortodoxa. Em uma época de dificuldades para a Igreja Ortodoxa, Mien sempre conservou uma atitude de abertura para com as demais igrejas cristãs, bem como para com as grande religiões. Foi o primeiro sacerdote ortodoxo a transpor os limites da escola e do Estado para ministrar um curso de religião. No dia 9 de setembro de 1990, padre Aleksandr Mien foi assassinado misteriosamente a golpes de machado em Semkhoz, uma pequena cidade da periferia de Moscou. A obra em questão foi a última publicação do autor, em 1989.
          Em Jesus, mestre de Nazaré temos uma abordagem completa da história de Jesus Cristo. Os precedentes do contexto histórico dos israelitas traziam à tona um passado de conflitos e guerras. A marca da religiosidade do povo estava em sua fidelidade, em meio a tantas adversidades. A mistura entre as crenças da fé judaica e outras culturas e filosofias dos vários mestres da humanidade surgidas até ali, criavam um mundo de linhas de pensamento alternativas. O grande número de profetas que falavam por inspiração, fortaleceu a crença na promessa de que viria o Messias Libertador, aquele que salvaria o povo de suas tribulações. Em seu modo de interpretar tal promessa, surgiram vários grupos, dentre os quais o dos fariseus, que faziam oposição à corte e se consideravam “separados”; o dos saduceus, vinculados à corte e, ao contrário dos fariseus, acreditavam que tudo terminava com a morte e somente reconheciam o Pentateuco, julgando como secundários os escritos proféticos; e por fim o dos essênios ou filhos da luz, os quais viviam retirados no deserto, evitando envolverem-se com o mundo pecaminoso.
          Jesus veio ao mundo mais ou menos em 4 a.C., no tempo de Herodes, o “rei da Judéia”, cujas barbaridades foram insistentemente reprovadas pelo povo. O que se sabe e provavelmente seja verdadeiro sobre sua vida em Nazaré (3 a.C. – 27 d.C.) é que pastoreava ovelhas e seu pai adotivo, José, falecera quando Jesus completou 19 anos. Jesus exercia o ofício de carpinteiro e pedreiro (uma vez que a palavra grega techton, designa ambas as atividades) de onde tirava o sustento para si e a mãe. Ele teria crescido como qualquer outra criança de seu tempo.
          Por volta do ano 27 d.C., Jesus partira definitivamente do lar. Ao iniciar sua missão e reunir os discípulos em torno a si, seus familiares pensaram que ele havia endoidecido. Sua mãe pode ter se mudado de Nazaré para Caná devido a isso. Ao contrário da pregação de João, que esperava as pessoas se reunirem ao seu redor para comunicar-lhes, Jesus ia ele mesmo aonde o povo estava. Ele confirmou para João, ser o Messias esperado, mas não se identificou com a imagem que o Batista fizera dele.
          Na Boa Notícia anunciada por Jesus (Besorah, em aramaico; Evangelion, em grego) a mensagem era dirigida de forma a privilegiar a relação de cada pessoa com Deus. Não mais um indivíduo anônimo em meia à massa, mas um ser humano convidado a se relacionar, do jeito que é, com a face carinhosa de Deus, que se mostra como Pai (Abba). Com a convocação dos Doze, nascia a “Igreja Anunciadora”, chamada a ser uma resposta às expectativas de cada ser humano. A liberdade que Jesus ensinava seus discípulos a viver incomodou profundamente, principalmente aos fariseus, que pregavam fervorosamente a fuga do mundo e o rigorismo ascético, demonstrando o apego cego e excessivo à tradição judaica. O fato de muitos se julgarem “justos” e as exclusões promovidas pela observância estrita da lei, impedia ao muitos compreender o chamado de Jesus para o perdão e sua acolhida aos pecadores (prostitutas, cobradores de impostos, marginalizados, doentes, endemoniados, etc.).
          O processo pelo qual Jesus foi preso e condenado à morte na cruz, prova que seu martírio foi conseqüência de seu anúncio. A mensagem libertadora que trouxera colocava em risco a posição das autoridades e abalava as estruturas da igreja consolidada. Além do mais, a figura pobre de Jesus não era compatível com a imagem do Messias apoteótico do imaginário das pessoas. Talvez isso tenha acabado com as esperanças dos apóstolos, frente a decepção do mestre, quando morreu na cruz. No entanto, o grande acontecimento do 3º dia é a grande chave para entender o porquê do autor dizer que a história de Jesus foi uma história que desafiou 2000 anos.
          A obra de Mien é uma referência riquíssima tanto para os que conhecem a Jesus Cristo e nele crêem, quanto para aqueles que o admiram, sem no entanto professarem a fé em sua mensagem. Em um estilo literário romanceado, o autor busca retratar a figura de Jesus que se depreende dos evangelhos: humana, misericordiosa, alegre e contemplativa, mas também enérgica e incisiva em determinadas circunstâncias. Desta forma, busca consolidar a mensagem de libertação que se concretizou na figura de seu próprio portador, disseminando-se por outros corações que também se encantaram pelo Reino, até o ponto de entregarem suas vidas em função dele, como o próprio mestre fez.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Jesus, mestre de Nazaré
Subtítulo:  a história que desafiou 2000 anos
Autoria:     Aleksandr Mien
Editora:     Cidade Nova
Ano:          1998
Local:        Vargem Grande Paulista
Edição:     
Gênero:     Biografia | Espiritualidade | Cristianismo

sábado, 16 de março de 2013

O Gigante de Botas (Ofélia e Narbal Fontes)


          A história do Brasil possui páginas de verdadeiras aventuras na tentativa de alargar as fronteiras e conhecer melhor as belezas e riquezas dessa terra. Contudo, as surpresas possuem também o seu lado sombrio, e partir rumo à busca de algo por veredas desconhecidas pode revelar-se como uma tarefa bastante arriscada. Isso quando o risco não está entre as próprias companhias que se dizem leais.
            A história dessa obra se passa durante as primeiras décadas do século XVIII, quando a corrida pelo ouro mobilizava diversos homens a saírem à sua procura. Na região de Parnaíba, próximo à cidade de São Paulo, a gente do povoado vivia dias de preparação para a partida de uma bandeira, liderada por Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, um fazendeiro do local. O Capitão João Leite da Silva Ortiz chegara para integrar o grupo de bandeirantes e se alegrava em ter ganhado a mão da filha de Anhanguera, Belinha, prometida em casamento. Seria uma motivação a mais para sua empreitada, e principalmente para seu regresso em paz e segurança.
            No dia e hora combinados, toda a bandeira se reunira e recebera as bênçãos dos clérigos, além dos cumprimentos do governador D. Rodrigo Cézar de Menezes. A expedição tinha por finalidade não só a utilidade ao serviço de El-Rei, como também a propagação da fé entre os índios nativos das matas cerradas. Deste modo, Anhanguera reunira seus filhos, o futuro genro Capitão Ortiz, o mameluco Antônio Indaiá e o mestre-fundidor Manuel Cabeça, alguns escravos e outros tantos homens para juntos partirem na busca por um objetivo comum: encontrar ouro. Todavia, nesse grupo havia também bandeirantes com ideias conspiradoras. Sebastião do Rego e Nuno Ramires confabulavam uma forma de substituir o ouro das bruacas (mala de couro cru) por pedras, tão logo fosse encontrado, a fim de obterem vantagem pessoal daquilo que era trabalho coletivo.
            Nas veredas desconhecidas das matas, os bandeirantes deviam ainda lidar com as armadilhas que os traidores armariam para dificultar a empreitada. Assim foi com um índio que havia sido mortalmente ferido à beira de um rio, numa tentativa de despistar a atenção dos aventureiros. Além do mais, a região por onde o itinerário passava era povoada por diversas tribos indígenas caiapós, quirixás e goiás, sendo que, embora muitos fossem pacíficos, outros poderiam sentir-se ameaçados e adotarem um comportamento extremamente selvagem. Alguns deles até mesmo conheciam o melhor local para que o ouro fosse garimpado. Porém, tamanha generosidade seria retribuída com sangue e dor, no episódio da morte da índia Nanã, depositando uma verdadeira cruz sobre os ombros de Anhanguera.
            Como romance escrito em parceria pelo casal Ofélia e Narbal Fontes, O Gigante de Botas é um verdadeiro drama de um período áureo da história do Brasil, mas também manchado por sangue e escravidão. A linguagem do discurso direto dos personagens, repleta de palavras regionalizadas e do estilo da época, com notas de rodapé explicativas, concede maior riqueza literária e transporta o leitor para um tempo de costumes e modos característicos. Enfim, esse mesmo leitor pode tornar-se um co-bandeirante, desde que tenha um mínimo de espírito aventureiro e um máximo de coragem para penetrar nessa história.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Gigante de Botas, O
Autoria:     Ofélia Fontes / Narbal Fontes
Editora:     Ática
Ano:          1983
Local:        São Paulo
Edição:     
Série:        Coleção Vaga-lume
Gênero:     Infanto-juvenil | Drama

sábado, 2 de março de 2013

Gladiador (Dewey Gram)

         "O general que se tornou um escravo.
O escravo que se tornou um gladiador.
O gladiador que insultou um imperador."

        Uma história bonita é aquela digna de ser contada. E a história desse pequeno livro prova essa afirmação com verdadeira reverência. Um livro simples, breve e cuja função principal é contribuir para o aprendizado da língua inglesa. Porém, a história escolhida não passaria tão simplória assim. Trata-se de um grande sucesso do cinema lançado em 2000, com roteiro de David Franzoni, John Logan e William Nicholson.
        No ano de 180 D.C., o poder de Roma se estendia dos desertos africanos às fronteiras do norte da Inglaterra. Por volta de ¼ da população mundial vivia sob o reinado de César e o império era temido e respeitado. Marcus Aurelius era o imperador e, a seu serviço, estava Maximus Decimus Meridius, um fazendeiro que se tornara general do exército romano e gozava de grande prestígio. A maior ambição de Maximus era pelo dia em que seria dispensado pelo imperador, a fim de que pudesse voltar ao lar e viver na companhia da esposa e do filho no cultivo dos campos de trigo. Esse dia estava próximo, faltando apenas uma última batalha contra a Germânia, com que Roma vinha guerreando há 20 anos.
        Contudo, o apreço filial de Marcus Aurelius por Maximus adiaria o sonho. O general fora convidado pelo imperador para que o substituísse na ocasião de sua morte, até que o Senado instaurasse a república de Roma. Marcus Aurelius tinha um filho, Commodus, mas sua natureza cruel, ciumenta e arrogante o impedia ter as verdadeiras virtudes para governar. Commodus era fascinado por jogos de arena e ansiava pelo dia em que sucederia o pai. Com isso, desgostoso e traído pela notícia, num abraço mortal ele assassina secretamente o pai, cuja saúde já estava debilitada, mandando também sua esquadra liderada por Quintus, levar Maximus para fora da cidade e matá-lo, como também sua esposa e filho. Era o início de um anseio por vingança voraz.
        Os membros do Senado, Gaius e Gracchus, apresentaram ao jovem imperador as necessidades e petições mais urgentes do povo romano. No entanto, alheio a tudo isso, Commodus decretara a realização de 150 dias de jogos no Coliseu, em uma manobra para que o povo tivesse o foco desviado de seus reais problemas através da diversão e o imperador atraísse fama para si. Tais jogos consistiam em duelos sangrentos em que soldados, escravos, gladiadores e herois batalhavam até a morte, em lutas cujas temáticas celebravam as grandes vitórias de Roma nas batalhas ao longo da história.
        Multidões de homens famintos se jubilavam durante os jogos e se punham avidamente atentos, aguardando o golpe de misericórdia desferido brutalmente sobre os derrotados. As competições eram manipuladas de forma que vencesse aqueles de maior renome entre os participantes. Numa dessas batalhas, o imperador vira sua honra duramente afrontada quando, ao olhar cara a cara com um gladiador que lutava bravamente, reconhecera o próprio general Maximus. Este, conseguira escapar da emboscada que fora armada quando Marcus Aurelius morrera e, desfalecido, havia sido capturado, vendido como escravo e recrutado como gladiador na Escola de Aelius Proximo. No Coliseu, a luta pela vida de Maximus ia muito além da mera sobrevivência: tornara-se um ideal existencial para aproveitar a melhor oportunidade, quando se vingaria do imperador toda a dor que lhe causara. A multidão ia à loucura com seus insultos silenciosos a César e o ovacionava chamando-o de "Espanhol". No entanto, tamanha coragem trazia um aperto ao coração de Lucilla, irmã de Commodus, que sentia amor pelo ex-general e se angustiava sabendo do que Commodus era capaz em sua crueldade. A vida de Maximus era cada vez mais incerta, e sua morte se tornaria o maior espetáculo que o Coliseu de Roma algum dia teria recebido.
        A história do filme recontada por Dewey Gram é perfeita. Extremamente fiel ao roteiro, o autor soube unir duas características que traduzem a mais pura mensagem da produção: ser sucinto e, ao mesmo tempo, transmitir toda a emoção que o filme proporciona. É mais uma razão que enaltece o porquê essa superprodução cinematográfica foi indicada a 12 Óscars e venceu 5, no ano seguinte ao seu lançamento.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Gladiador
Autoria: Dewey Gram
Editora: Person Education Limited
Ano:      2001
Local:    Harlow
Gênero: Épico | Guerra | Drama | Didático
 
Confira o trailer produção cinematográfica lançada em 2000: