Aleksandr Mien, padre ortodoxo russo, nasceu em Moscou em 22 de janeiro de 1935. Estudou biologia e ordenou-se sacerdote, exercendo seu ministério junto a intelectuais, músicos, atores, filósofos, poetas e artistas, o que lhe rendeu o nome de “missionário da tribo dos intelectuais”. Também trabalhou em paróquias rurais próximas a Moscou. Na área acadêmica, Mien tornou-se biblicista de renome e publicou várias obras sobre a história das religiões, um dicionário bíblico e diversas publicações sobre as Sagradas Escrituras e a Igreja e liturgia ortodoxa. Em uma época de dificuldades para a Igreja Ortodoxa, Mien sempre conservou uma atitude de abertura para com as demais igrejas cristãs, bem como para com as grande religiões. Foi o primeiro sacerdote ortodoxo a transpor os limites da escola e do Estado para ministrar um curso de religião. No dia 9 de setembro de 1990, padre Aleksandr Mien foi assassinado misteriosamente a golpes de machado em Semkhoz, uma pequena cidade da periferia de Moscou. A obra em questão foi a última publicação do autor, em 1989.
Em Jesus, mestre de Nazaré temos uma abordagem completa da história de Jesus Cristo. Os precedentes do contexto histórico dos israelitas traziam à tona um passado de conflitos e guerras. A marca da religiosidade do povo estava em sua fidelidade, em meio a tantas adversidades. A mistura entre as crenças da fé judaica e outras culturas e filosofias dos vários mestres da humanidade surgidas até ali, criavam um mundo de linhas de pensamento alternativas. O grande número de profetas que falavam por inspiração, fortaleceu a crença na promessa de que viria o Messias Libertador, aquele que salvaria o povo de suas tribulações. Em seu modo de interpretar tal promessa, surgiram vários grupos, dentre os quais o dos fariseus, que faziam oposição à corte e se consideravam “separados”; o dos saduceus, vinculados à corte e, ao contrário dos fariseus, acreditavam que tudo terminava com a morte e somente reconheciam o Pentateuco, julgando como secundários os escritos proféticos; e por fim o dos essênios ou filhos da luz, os quais viviam retirados no deserto, evitando envolverem-se com o mundo pecaminoso.
Jesus veio ao mundo mais ou menos em 4 a.C., no tempo de Herodes, o “rei da Judéia”, cujas barbaridades foram insistentemente reprovadas pelo povo. O que se sabe e provavelmente seja verdadeiro sobre sua vida em Nazaré (3 a.C. – 27 d.C.) é que pastoreava ovelhas e seu pai adotivo, José, falecera quando Jesus completou 19 anos. Jesus exercia o ofício de carpinteiro e pedreiro (uma vez que a palavra grega techton, designa ambas as atividades) de onde tirava o sustento para si e a mãe. Ele teria crescido como qualquer outra criança de seu tempo.
Por volta do ano 27 d.C., Jesus partira definitivamente do lar. Ao iniciar sua missão e reunir os discípulos em torno a si, seus familiares pensaram que ele havia endoidecido. Sua mãe pode ter se mudado de Nazaré para Caná devido a isso. Ao contrário da pregação de João, que esperava as pessoas se reunirem ao seu redor para comunicar-lhes, Jesus ia ele mesmo aonde o povo estava. Ele confirmou para João, ser o Messias esperado, mas não se identificou com a imagem que o Batista fizera dele.
Na Boa Notícia anunciada por Jesus (Besorah, em aramaico; Evangelion, em grego) a mensagem era dirigida de forma a privilegiar a relação de cada pessoa com Deus. Não mais um indivíduo anônimo em meia à massa, mas um ser humano convidado a se relacionar, do jeito que é, com a face carinhosa de Deus, que se mostra como Pai (Abba). Com a convocação dos Doze, nascia a “Igreja Anunciadora”, chamada a ser uma resposta às expectativas de cada ser humano. A liberdade que Jesus ensinava seus discípulos a viver incomodou profundamente, principalmente aos fariseus, que pregavam fervorosamente a fuga do mundo e o rigorismo ascético, demonstrando o apego cego e excessivo à tradição judaica. O fato de muitos se julgarem “justos” e as exclusões promovidas pela observância estrita da lei, impedia ao muitos compreender o chamado de Jesus para o perdão e sua acolhida aos pecadores (prostitutas, cobradores de impostos, marginalizados, doentes, endemoniados, etc.).
O processo pelo qual Jesus foi preso e condenado à morte na cruz, prova que seu martírio foi conseqüência de seu anúncio. A mensagem libertadora que trouxera colocava em risco a posição das autoridades e abalava as estruturas da igreja consolidada. Além do mais, a figura pobre de Jesus não era compatível com a imagem do Messias apoteótico do imaginário das pessoas. Talvez isso tenha acabado com as esperanças dos apóstolos, frente a decepção do mestre, quando morreu na cruz. No entanto, o grande acontecimento do 3º dia é a grande chave para entender o porquê do autor dizer que a história de Jesus foi uma história que desafiou 2000 anos.
A obra de Mien é uma referência riquíssima tanto para os que conhecem a Jesus Cristo e nele crêem, quanto para aqueles que o admiram, sem no entanto professarem a fé em sua mensagem. Em um estilo literário romanceado, o autor busca retratar a figura de Jesus que se depreende dos evangelhos: humana, misericordiosa, alegre e contemplativa, mas também enérgica e incisiva em determinadas circunstâncias. Desta forma, busca consolidar a mensagem de libertação que se concretizou na figura de seu próprio portador, disseminando-se por outros corações que também se encantaram pelo Reino, até o ponto de entregarem suas vidas em função dele, como o próprio mestre fez.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Jesus, mestre de Nazaré
Subtítulo: a história que desafiou 2000 anos
Autoria: Aleksandr Mien
Editora: Cidade Nova
Ano: 1998
Local: Vargem Grande Paulista
Edição: 1ª