É indiscutível que as cartas de Paulo ocupam um lugar importante no Novo Testamento Bíblico, para quem deseja conhecer a pessoa de Paulo e a repercussão da mensagem que anunciou. À luz desta fonte e também da tradição da Igreja, o Frei Carlos Mesters busca responder a dois objetivos nesta obra: 1º) conhecer Paulo; 2º) conhecer as comunidades fundadas por ele. No entanto, não se trata de um olhar para o passado simplesmente, mas olhar as cartas que Paulo endereçou às comunidades daquele tempo, para tentar responder às questões de hoje.
O autor divide o tema de seu trabalho em quatro partes interligadas que visam dar a conhecer a pessoa do apóstolo: 1ª) do nascimento aos 28 anos de idade: o judeu observante; 2ª) dos 28 aos 41 anos de idade: o convertido fervoroso; 3ª) dos 41 aos 53 anos de idade: o missionário itinerante; 4ª) dos 53 anos até à morte aos 62 anos de idade: o prisioneiro (quatro anos) e o organizador das comunidades (cinco anos).
Como todo aquele que é chamado apóstolo, Paulo também fez uma experiência de Deus em sua vida, que o mobilizou a anunciar o Evangelho. Judeu praticante, era um rígido defensor da lei, o que o tornou um perseguidor dos cristãos, para os quais o Messias esperado era o próprio Jesus, morto e ressuscitado. A “queda do cavalo” a caminho de Damasco o leva a um processo radical de conversão, integrando-o na comunidade dos cristãos. Surge então um anunciador incansável do Evangelho, que suporta padecimentos no corpo e na alma, viagens longas, perigosas e de retorno incerto, prisões, afrontas e perseguições, tudo isto a fim de levar adiante a tarefa empreendida como missionário itinerante. A espiritualidade para Paulo, deixa de ser um conjunto de ideias bonitas para se meditar, e passa a ser uma experiência concreta de Deus e de Jesus na comunidade e na luta do povo. Deste modo, a partir do encontro com Jesus, Paulo continua a ver as mesmas coisas de sempre: a vida, o povo, a Bíblia, a cidade, o passado, a Aliança, a Lei, o templo, a sinagoga, o trabalho, os conflitos, os lugares e tudo o que já pertencia ao seu mundo, agora porém, com outros olhos e outros valores.
Outro ponto que chama a atenção, diz respeito ao título do livro: Paulo Apóstolo: um trabalhador que anuncia o Evangelho. Na sociedade grega ou helenista o “trabalhar com as próprias mãos” era visto como trabalho próprio de um escravo e impróprio para quem fosse cidadão ou homem livre. Tal concepção levava a um sonho comum de uma vida tranqüila, preenchida pelo estudo e meditação, sem trabalho manual. Tal privilégio era reservado aos filósofos e missionários, os quais eram acolhidos e sustentados de bom grado pelas comunidades, as quais viam neles a realização do sonho de todos. A Paulo, restavam as opções de impor um preço pelo ensino que dava, pedir esmolas nas praças ou se empregar como professor na casa de uma família rica, a fim de ganhar o necessário para viver. Ele inverte as coisas e passa a trabalhar para se auto sustentar e anunciar livremente o Evangelho.
Paulo foi ainda um grande escritor de cartas. Algumas de sua própria autoria, como as escritas na prisão: Efésios, Colossenses, Filipenses e Filemon. Outras, provavelmente pelos discípulos: Hebreus, Tito, 2Timóteo, 2Tessaloniceses.
Carlos Mesters apresenta a figura de Paulo bem detalhada e instigante. Alguém que soube ter convicção do que acreditava e transformar a vida de muitos com seu empenho missionário. Um exemplo completo para todo aquele que deseja atualizar a mensagem de Cristo, sem tirar os pés do contexto histórico da atualidade.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Paulo Apóstolo
Subtítulo: um trabalhador que anuncia o Evangelho
Autoria: Carlos Mesters
Editora: Paulinas
Ano: 1991
Local: São Paulo
Gênero: Religião | Espiritualidade