sábado, 29 de setembro de 2012

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (Joanne K. Rowling)


No terceiro livro da saga do jovem bruxo Harry Potter, a autora traz aos leitores muitas novidades em mais uma surpreendente aventura pelos arredores da Escola de Bruxaria de Hogwarts. É a continuação de uma história cuja emoção justifica os milhares de fãs espalhados pelo mundo inteiro.
        Como já era de praxe, as férias vinham se sucedendo de modo estressante na casa dos Dursley, a família de trouxas com quem Harry Potter convivia parte do ano. Não bastasse isso, o garoto teria que suportar a frustração em não poder visitar Hogsmead, um local famoso entre os bruxos, visto que seu tio Válter não assinaria sua autorização. O jeito seria tentar se distrair e se contentar com as incríveis histórias que seus amigos contariam depois.
        No retorno para o ano letivo em Hogwarts, uma notícia trazia certo receio aos alunos: Sirious Black, um assassino famoso, havia escapado da prisão de Azkaban e se dirigira a Hogwarts à procura de sua nova vítima, Harry Potter. Além do mais, a presença dos dementadores guardiões da prisão de Azkaban, trazia certo desconforto aos alunos. Contudo, algumas novidades criavam expectativas de que aquele seria um grande ano para todos: o prof. Lupin fora contratado como novo mestre de Defesa contra as Artes das Trevas; Sibila Trelawney ministraria a nova matéria do 3º ano, Adivinhação; e Rubeo Hagrid, velho amigo de Harry, Rony e Hermione, realizara um sonho, tornando-se o novo professor da nova matéria, Trato das Criaturas Mágicas.
       A retomada dos estudos logo traria confusões para o diretor da escola, Alvo Dumbledore. Dentre os impasses mais graves, estava o fato de Bicuço, um hipogrifo (criatura resultante da mistura de partes de outros animais) ter atacado violentamente o aluno da Sonserina, Draco Malfoy, durante a primeira aula de Hagrid. Malfoy era o aluno que Harry mais odiava e, por seu pai ser membro da Comissão para Eliminação de Criaturas Perigosas, um complô em torno da suposta agressão fizera com que o animal fosse injustamente condenado ao sacrifício. Harry guardaria sua indignação para que fosse descarregada no importante jogo de quadribol, em que sua casa precisava vencer, a fim de conquistar o título daquele ano. Para isso, Harry teria a seu favor o mais recente modelo de vassoura Firebolt já lançado, que ganhara de alguém misterioso.
        Enquanto o ano letivo transcorria, Harry, Rony e Hermione se deixavam envolver não só pelos estudos como também pelas notícias acerca da fuga do prisioneiro de Azkaban. Auxiliados pela Capa da Invisibilidade, o Mapa do Maroto e o Vira-tempo, os três garotos estariam dispostos a tudo, a fim de livrar Bicuço da execução e salvar a carreira de Hagrid. Nesse ínterim, a eterna luta entre o gato de Hermione, Bichento, e o rato de Rony, Perebas, levaria Harry a descobrir a verdade sobre o prisioneiro de Azkaban. Uma verdade que lhe faria regredir ao assassinato de seus pais Lílian e Tiago, esclarecendo-lhe um pouco mais as sombras que ainda cercavam sua história de vida. Outra figura surgiria no elenco, Pedro Petigrew, e com ele os animagos, os quais eram bruxos que dominavam a arte de se transformarem em animais.
         Aqueles que acompanharam as outras duas histórias anteriores encontrarão nessa terceira obra uma história ainda mais cercada de suspense, enigma e aventura. Além disso, a personalidade de Harry se mostra de forma rebelde, principalmente no convívio com seus tios e seu primo. Afinal, o menino Harry Potter, então com 13 anos, vem crescendo e desenvolvendo seus poderes como bruxo gradativamente. E as descobertas que faz de seu passado o tornam mais próximo de seu maior rival, o lorde das trevas Voldemort.

ROWLING, Joanne K.. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. 350 pgs.

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2004:

 

sábado, 22 de setembro de 2012

O Jogador (Fiódor Dostoiévski)

jogador, o          Fiódor Mikhailovich Dostoiévski nasceu em Moscou no ano de 1821 e faleceu em São Petersburgo no ano de 1881. Quando era bem jovem ficou órfão de pai e mãe, o que influenciaria bastante em sua vida. Dostoievski estudou engenharia numa escola militar e teve contato com os livros dos grandes escritores de sua época. Em 1849 foi preso por participar de reuniões subversivas e condenado à morte. No entanto, no ato de execução da pena, um decreto de Nicolau I a comutou e ele passou nove anos preso na Sibéria. Sobre esse tempo, deixou relatos nas obras Recordações da Casa dos Mortos e Memórias do Subsolo. Epiléptico, atribuia suas crises a uma "experiência com Deus" e conservava certa religiosidade. Entre suas obras, além das já citadas, destacam-se Crime e Castigo, O Idiota, O Jogador, Os Demônios, O Eterno Marido e Os Irmãos Karamazov, sendo que esta última foi considerada pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud, como o maior romance já escrito.
          Ditado para sua secretária, O Jogador nasce do pensamento de Dostoievski com fortes traços de sua própria biografia, uma vez que parte de sua vida foi gasta na compulsão pelos jogos de cassino. O personagem principal é o jovem Alexei Ivanovitch, o qual trabalhava em um hotel para um general. Aborrecido com a detestável cultura elitista, Alexei se tornara um jogador compulsivo, assíduo frequentador dos cassinos, mas com certa margem de segurança sobre até que ponto continuar apostando. Tudo havia começado quando a paixão por Polina Alexandrovna, enteada do general, o fizera apostar pela primeira vez. O amor da jovem tornara-se o objetivo principal de sua vida, mesmo que ela demonstrasse certo desprezo por sua pessoa.
          Paralelamente, o general vivenciava sua paixão por Mademoiselle Blanche, com quem pretendia se casar. A esperança do general era a grande herança que esperava receber com a morte da avó. No entanto, mesmo com as notícias de que ela se encontrava seriamente doente, todos foram surpreendidos quando Antonieda Vasilievna aparecera no hotel em perfeitas condições de saúde. Tendo conhecido o cassino na companhia de Alexei, Antonieda jogara irracionalmente, gastando até o total esgotamento de suas riquezas, dando um fim ao sonho do general, por quem demonstrava certa repugnância.
          Agraciado por outra sorte, Alexei Ivanovich lançara na roleta seus últimos florins e ganhara uma fortuna como nunca possuíra em vida. Encorajado por viver junto a Polina, sofrera a terrível decepção de ser rejeitado. Constrangido, decidira gastar tudo o que ganhara com Mademoiselle Blanche. Anos mais tarde, Alexei se encontrara com um velho amigo, Astley e recebera deste uma ajuda em dinheiro, juntamente com a notícia de que mesmo nunca tendo lhe manifestado às claras, Polina nutria por ele um grande amor. Diante desse impasse, Alexei depara-se com mais um conflito decisivo: empregar aquela quantia para ir ao encontro de sua amada ou apostar tudo na roleta na tentativa de multiplicá-la?
          Contornando o problema dos complexos da decisão humana, Dostoievski abarca toda a dimensão dos atos e escolhas por que somos orientados. A ruína do sonho do general, as aventuras de amor de Alexei para conquistar Polina e o desfecho inesperado dado à fortuna de Antonieda Vasilievna, montam o cenário de uma novela. Desta forma seu personagem resume com toda a profundidade o trágico dilema da vida de um jogador: viver do jogo, gastando tudo despreocupadamente para, no fim, voltar a jogar.
 
DOSTOIEVSKI, Fíodor. O Jogador. Lisboa: Editorial Verbo, [s.d.]. 190 pgs.

sábado, 15 de setembro de 2012

Elite da Tropa (Luiz Eduardo Soares / André Batista / Rodrigo Pimentel)


            Uma obra literalmente inovadora no que diz respeito à literatura policial, Elite da Tropa encerra a mesclagem da realidade sob o véu da ficção em sua melhor forma. É a primeira obra policial brasileira que retrata de forma clara e concisa o cotidiano vivido pelos profissionais da segurança pública. Não é um livro de que se pode esperar grande riqueza literária ou rebuscamento de linguagem. Pelo contrário, a narrativa fria, seca, direta e repleta de referências ao linguajar típico dos morros, contribui para aproximar o leitor da realidade narrada. Trata-se de uma obra composta em parceria por três autores: Luiz Eduardo Soares, antropólogo e então Secretário Municipal de Valorização da Vida e Prevenção da Violência de Nova Iguaçu (RJ); bem como André Batista e Rodrigo Pimentel, ex-combatentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), de que trata a história.
            O livro se divide em duas partes. Na primeira, intitulada “Diário de Guerra” é apresentada uma coletânea de textos que demonstram o processo de treinamento duro dos oficiais do BOPE e seu esquema de atuação nas favelas do Rio de Janeiro. Como é explicado pelo autor na introdução, trata-se de relatos com nome e fatos fictícios mas que, longe de se tornarem trechos de uma mera ficção cinematográfica, expressam precisamente o clima de violência e hostilidade do cotidiano do BOPE. Além do mais, é exaltada a fidelidade ao dever policial que cada membro é ensinado a adquirir e cultivar, dever esse que, por ser esquecido, torna-se a fonte de corrupção entre os militares da polícia convencional.
O treinamento é a etapa mais árdua que o oficial deve superar, onde é submetido a situações de fome, humilhação, tensão e exaustão extremas. Tais experiências limítrofes visam suscitar no candidato o zelo para com a corporação. As condições insanas levam-no também a zelar ao extremo o significado do escudo do BOPE bordado no uniforme – uma caveira com uma faca cravada no crânio – de que os criminosos devem ser vistos sem qualquer piedade e eliminados em prol do bem estar social. É essa a ideologia da corporação e a raiz da motivação de cada soldado ao subir os morros sedentos por extermínio.
Na segunda parte do livro, intitulada “Dois anos depois: a cidade beija a lona” é apresentado um dossiê o qual visa expor o câncer da polícia carioca: a corrupção. Marginais, autoridades políticas, militares e civis se entrelaçam em uma trama na qual os interesses são capazes de se sobreporem a qualquer lei ou preceito moralmente constituído. Diante disso, fica a inquirição: a violência no Rio de Janeiro de fato reflete o despreparo da polícia no combate ao crime organizado ou é consequência necessária de um negócio lucrativo para traficantes e policiais corruptos e lesivo aos cidadãos inocentes e honestos? Desta forma, fica a conclusão de que a polícia convencional carioca chegou ao ponto de render seus próprios oficiais que desejam trabalhar honestamente, quando deveria apontar a arma para si mesma. O sacrifício das boas intenções levou a um suborno nunca antes imaginado dentro da corporação que se diz detentora da missão de proteger o cidadão e garantir a paz social.
A relevância dos assuntos abordados em Elite da Tropa fez com que a obra ganhasse uma adaptação para as telas do cinema em 2007. Os soldados do BOPE são colocados como os super-heróis que arriscam suas vidas em pesadas trocas de tiros nos morros cariocas. Por outro lado, há uma polícia convencional que se prostitui em sua função enquanto se veste com o véu da autoridade. Enfim, a narrativa dos três autores demonstra, a partir de dentro, como é disseminada nos quarteis parte de um processo de descrédito que atinge às claras quase toda a esfera do poder público.

SOARES, Luiz Eduardo / BATISTA, André / PIMENTEL, Rodrigo. Elite da Tropa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. 316 pgs.

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2007:

 

sábado, 8 de setembro de 2012

A Obra do Artista: uma visão holística do universo (Frei Betto)

a obra do artista          Frei Betto é frade dominicano e escritor. Nascido em Belo Horizonte em 1944, estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia, e lecionou física, química e biologia. Recebeu vários prêmios, dentre os quais: Jabuti (1983), principal prêmio literário do Brasil, por seu livro de memórias Batismo de Sangue; Juca Pato (1986), eleito pelos escritores brasileiros filiados à União Brasileira de Escritores como o Intelectual do Ano; prêmio da Fundação Bruno Kreisky, Viena, por seu trabalho em prol dos direitos humanos. Foi ministro do governo Lula e assessor da Pastoral Operária e de movimentos populares. A Obra do Artista foi o seu 30º livro, fruto de cinco anos de pesquisa.
          Embasado pelas descobertas da Cosmologia, Física Quântica e Biologia, Frei Betto busca sintetizar a complexidade do Universo em algumas páginas. Para isso analisa importantes teorias científicas, confrontando-as com a modernidade em crise.
          Embora impregnado de credibilidade, o solo científico é acidentado por incertezas. Ao longo da história, as teorias que atacaram a visão iconoclasta da Igreja (não só a Católica como também os protestantes Calvino e Lutero) provocaram fortes revoluções ideológicas. Assim foi com a Teoria Heliocêntrica de Copérnico, principalmente pela obra De Revolutionibus, como também com Galileu e Einstein. Deste último, a Teoria da Relatividade, pela qual o movimento, do ponto de vista da experiência possível, aparece sempre como o movimento de um objeto em relação a outro (por exemplo, um automóvel em relação ao solo, ou a Terra em relação ao sol), representou um grande avanço na física quântica. Dessa forma, além das grandezas já existentes (altura, comprimento e largura) é necessário também considerar a grandeza tempo. Ao contrário de Isaac Newton, para o qual a gravidade é uma força que atua entre corpos diferentes, para Einstein ela é o efeito da massa na geometria do espaço. No entanto, a questão sobre se o Universo é hiperbólico, aberto e infinito, ou esférico, fechado e finito, ou mesmo plano, ainda é uma incógnita para a ciência. Além do mais, diferente do que Einstein pensava, o Universo é dinâmico e está em constante expansão.
          Pela Física Quântica, toda e qualquer espécie de matéria é feita de partículas elementares. Ela é constituída de moléculas, que são feitas de átomos, que são feitos de prótons, nêutrons e elétrons, que são feitos de quarks e neutrinos. Assim, a Teoria Quântica permite constatar a unidade de todas as coisas: o todo nas partes e as partes agregadas no todo. A mesma energia vital presente no ser humano está nos outros seres animais, vegetais e minerais: "os seres humanos são tão naturais quanto uma abóbora ou uma estrela" (p. 37). Fragmentos do universo estão presentes em cada ser e estes são animados por um mesmo Espírito. No entanto, uma grande dificuldade se interpõe no estudo das partículas, pelo desafio de conceber espaço e tempo no continuum quadridimensional. As leis da natureza na dimensão macroscópica não se aplicam à dimensão microscópica. Na Física Quântica, a natureza é dual: um elétron pode se comportar ora como partícula, ora como onda. Além do mais, a concepção do observador influi no fenômeno observado. Os recursos tecnológicos existentes ainda são falhos e escassos para descobrir o mundo quântico, dando cada vez mais credibilidade ao Principio da Indeterminação proposto pelo alemão Werner Heisenberg, em 1927.
          A Teoria do Big Bang é uma das mais aceitas quando o assunto é a origem do Universo. Delineada pelos cálculos de Alexander Friedmann, foi defendida por George Lemaître que, por ser padre, foi olhado com certo desdém por cientistas como Einstein e Arthur Eddington, tornando-se famoso somente após virar notícia no The New York Times. O limite de Planck (10-43 de segundo) assinala o primeiro momento em que tempo e espaço coexistiram, após a Grande Explosão. Surgiram então as quatro forças fundamentais da natureza: 1ª) a forte, responsável pela ligação de prótons e nêutrons no interior dos núcleos dos átomos; 2ª) a fraca, responsável pela radioatividade; 3ª) a eletromagnética, responsável por reunir átomos em moléculas, estruturando a matéria; 4ª) a gravitacional, responsável pela atração universal de toda a matéria em si. A Teoria do Big Bang também explica o surgimento dos 109 elementos químicos conhecidos e, em sua maioria, classificados por Mendeleïev: 92 encontrados na natureza e 17 obtidos em laboratório. O autor apresenta um dado interessante em que, condensando toda a evolução do Universo em 1 ano, o calendário cósmico ficaria assim: 1º de janeiro: o Big Bang; 1º de maio: o despertar da Via Láctea; 9 de setembro: a irrupção do Sistema Solar; 14 de setembro: a formação da terra; 25 de setembro: o aparecimento da vida. No entanto, há um certo desafio em compreender os buracos negros, no qual uma estrela desaparece, contraindo de tal forma a sua massa, que a gravidade é capaz de sugar até mesmo a luz.
          Analisado o surgimento fantástico do Universo, falta ainda sua maior obra-prima: a vida. Pela Teoria da Panspermia, ela teria vindo do espaço. A matéria "cozida" por estrelas supernovas teria produzido aminoácidos e estes vindos para a Terra em meteoritos. Mesmo assim, acredita-se que a vida possa ter surgido mais de uma vez. Não se sabe como, mas se sabe que foi a partir de um aglomerado de moléculas. Nesse ponto, é pertinente o questionamento se a vida é algo deste mundo ou teria se desenvolvido também em outros planetas e galáxias, dando margem a seres extraterrestres. A complexidade de uma única cadeia de DNA do genoma humano é uma incógnita na evolução. Como a natureza se organizaria de forma tão lógica, reproduzindo cópias distintas, com reduzida margem de erro. Para o autor, até mesmo a materialização do Ser Divino na encarnação de Jesus Cristo, prova a possibilidade da união entre espírito e matéria, constatando que o ser humano é dotado da dignidade transcendental.
          Teorias à parte, a percepção da realidade objetiva depende sempre da realidade subjetiva do observador, de forma que Michel Talbot a descreve como sendo omnijetiva. Toda a lógica e beleza do Universo, levam o autor à conclusão de que ele foi arquitetado por uma mente inteligente, e não consequência de sucessivos eventos ocasionais, como uma obra de arte é o produto do talento de um artista.
 
BETTO, Frei. A Obra do Artista: uma visão holística do Universo. São Paulo: Ática, 1995. 2ª ed.. 262 pgs.

sábado, 1 de setembro de 2012

A história de Lula: o filho do Brasil (Denise Paraná)


A obra em questão é uma versão condensada de outra homônima escrita pela mesma autora, publicada em diversos países. Ganhou uma adaptação para o cinema em 2010, naquela que foi a 2ª produção cinematográfica mais cara da história do Brasil até então, perdendo apenas para o filme Nosso Lar. Denise Paraná é referência nas pesquisas sobre a vida do ex-presidente da república Luís Inácio Lula da Silva. Essa obra é fruto de sua tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo em 1995, cujo título é Da cultura da pobreza à cultura da transformação – A história de Luís Inácio Lula da Silva e sua família.
        Apesar de a figura central do livro ser Lula, o protagonismo é dividido com outra pessoa essencial ao narrar sua história: sua mãe, Eurídice Ferreira de Melo, mais conhecida como Dona Lindu. Dona Lindu nasceu e cresceu em Caetés, no município de Garanhuns, nos rincões do estado de Pernambuco, em 1915. Desde pequena, foi ensinada a conviver com as dificuldades da vida, principalmente com a seca, que assolava o sertão nordestino. Herdeira de uma tradição em que as moças se casavam com noivos indicados pelos pais, Lindu casara-se com Aristides Inácio da Silva, popularmente conhecido como Aristides, o caçador. O casal havia tido oito filhos e sofrido dois abortos, quando Aristides decidira partir rumo a São Paulo com Mocinha, prima de Dona Lindu, ao descobrir que a engravidara. Sozinha com os filhos que Aristides deixou para trás, Dona Lindu se apegava à sua fé, a fim de que o filho caçula que trazia em seu ventre escapasse à morte.
       Dona Lindu deu à luz a Lula em 27 de outubro de 1945, quando uma alta taxa de mortalidade infantil dizimava crianças em Pernambuco. Com o filho ainda pequeno, saíra do sertão rumo a São Paulo devido a uma carta que Aristides ditara para o filho, recomendando a Lindu permanecer onde estava, e a saudade o fizera escrever ao contrário do que dissera o pai. Em São Paulo, Lula foi o primeiro filho a se formar, tendo se graduado no curso técnico de torneiro mecânico do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Sua profissão foi inicialmente exercida na fábrica de parafuso Marte. Posteriormente, Lula trabalhou na Fábrica Independência, onde sofreu o acidente que culminou na amputação do dedo mínimo de sua mão esquerda. Embora muito tímido e acanhado no trato com as mulheres, Lula se casou com Lourdes. Esta veio a falecer e, junto dela, o primeiro filho do casal, ainda em gestação. Após longos anos de tristeza, Lula se encontrou e casou com Marisa Letícia, que também havia ficado viúva à mesma época em que ele.
Embora temerosa pelas perseguições, Marisa apoiava firmemente o marido que, por influência do irmão Frei Chico, se envolveu com o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, de que se tornou presidente durante a época do Regime Militar. Acusado de promover manifestações subversivas, Lula foi preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), sendo solto no mesmo ano. Ainda em 1980, junto a outros militantes de várias tendências, Lula fundou o Partido dos Trabalhadores (PT). Era um marco em sua trajetória política, que o levaria a ser eleito presidente da república em 2002, após três derrotas consecutivas nas urnas.
Mais do que a narrativa da vida de um personagem verídico, uma biografia deve ser o relato de uma história digna de ser contada, por servir de inspiração ao leitor. Neste intuito, a narrativa apresentada pela autora suprime a informação de datas precisas dos acontecimentos para dar lugar a algo ainda mais significativo: o que os personagens fizeram diante dos revezes que a vida lhes causou. Assim, Lindu é colocada como uma mulher guerreira e lutadora na criação dos filhos, mesmo diante de sua humilde condição social. Lula é a consagração de toda essa luta vivida por sua mãe, disseminando-a por meio da luta pelos direitos da classe trabalhadora.

PARANÁ, Denise. A história de Lula: o filho do Brasil. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. 142 pgs.

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2010: