Desde
a polêmica publicação de Dan Brown de O Código Da Vinci, a literatura contemporânea tem
seguido uma tendência a abordar aspectos impactantes no cristianismo, na
tentativa de desconstruir algum aspecto de sua doutrina, fornecer-lhe outra
versão ou mesmo pela repercussão quando esse é o tema. Assim acontece com O
Sudário de Oviedo, em uma trama em torno de umarelíquia do catolicismo.
Na
cidade espanhola de Oviedo, todos os anos um sudário era exposto para veneração
dos fieis, durante os dias sagrados da Páscoa. Trata-se de um pequeno tecido
que supostamente teria sido colocado sobre a cabeça de Jesus quando foi
sepultado. Em uma destas exposições, seu tutor Dom Miguel Alvarez,
misteriosamente falecera na Câmara Secreta durante a cerimônia de recolhimento
do sudário. Como a relíquia estava aparentemente intacta, as autoridades
religiosas não procederam maiores investigações sobre o caso, sem no entanto
suspeitarem que ela houvesse sido adulterada.
Sete
anos depois, na cidade de Boston (EUA), uma jovem garçonete tentava driblar a
rotina cansativa do restaurante Blue Dawn Diner. Hannah Manning havia perdido
os pais em um acidente automobilístico aos 12 anos de idade, à mesma época em
que o tutor do sudário havia falecido. Vivia com seus tios Ruth e Herb e sentia
que precisava de algo que lhe fizesse sentir um gosto maior pela vida. Hannah
era repleta de sentimentos altruístas e, ao se deparar com um anúncio para mães
de aluguel em um jornal, abraçou a proposta, mesmo sob os alertas da amiga
Teri. Tratava-se da associação Partners in Parenthood (PIP), dirigida
por Letitia Greene - cuja verdadeira identidade viria a ser revelada
posteriormente como sendo Judith Kowalski - na qual mães de aluguel geravam os
filhos de casais com problemas de procriação, mediante o processo de engenharia
genética da fertilização in vitro. Tais mães teriam um vínculo apenas
temporário com o casal e receberiam um pagamento considerável durante a
gestação. Deste modo, Hannah seria como uma espécie de incubadora do casal
Jolene e Marshall Whitfield. A gratidão pelo gesto da garota e os problemas que
vinha enfrentando com a reprovação por parte de seus tios frente tal escolha,
fizeram com que os Whitfield acolhessem Hannah em sua casa em Fall River,
durante a gravidez.
Jolene
e Marshall eram extremamente atenciosos com Hannah. Porém, nos meses finais da
gestação, os dois vinham apresentando um comportamento estranho. Hannah fizera
amizade com o padre Jimmy, que atuava na Igreja Nossa Senhora da Luz Perpétua.
Orientado pelo pároco e confrade Monsenhor Gallagher, padre Jimmy tentava se
envolver o mínimo possível com a garota, mas algo lhe fazia crer que ela estava
em perigo. Desta forma, descobre que o casal era adepto de um tipo de crença
conspiratória segundo a qual a segunda vinda de Cristo se daria por meio da
ciência: ele devia nascer novamente de uma virgem. Cruzando tal informação com
a adulteração do Sudário de Oviedo, concluíra que Hannah havia sido fecundada a
partir do DNA do sangue encontrado no pano. A menina fora vítima de uma farsa
para que se tornasse o meio de geração do clone de Jesus.
A trama na qual o romance é construído fornece elementos suficientes para que
um clima de suspense envolva a história. Os autores se focam mais nesse clima
do que na apresentação de dados históricos detalhados sobre a relíquia ou a
seita do casal Whitfield, o que dá a obra um caráter mais contido e menos
informativo. O livro se tornou um sucesso de vendas na Europa mas sem levantar
muita polêmica. Talvez seu valor, além da curiosidade natural que o suspense
suscita no leitor, esteja também em abordar uma possível teoria não muito em
voga sobre a segunda vinda de Cristo.
FOGLIA,
Leonard; RICHARDS, David. O Sudário de Oviedo. Rio de Janeiro: Suma de
Letras, 2007. 271 pgs.
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