domingo, 15 de janeiro de 2012

A Última Confissão (Morris West)

a ultima confissao          Morris West nasceu em Melburne (Austrália) em 1916. Depois de ter estudado nas Universidades de Melburne e Tasmânia, ensinou, durante sete anos, inglês, francês e história da Europa. Durante a Segunda Guerra Mundial esteve no Pacífico, até 1943, como membro das Forças Armadas Australianas. Dos vários romances que escreveu, estes cinco tornaram-no célebre: Filhos das Trevas, A Segunda Vitória, Toda a Verdade, Kundu e, sobretudo, O Advogado do Diabo, o romance de maior venda em todo o mundo. Os seus últimos livros, O Embaixador, As Sandálias do Pescador, Forca na Areia e Torre de Babel, obtiveram um enorme sucesso.
          Filipo Giordano Bruno, o Nolano, conforme fora denominado, era um monge da Ordem dos Frades Pregadores. Acusado de perverter a “divina ciência” da teologia, foi encarcerado por ordem da Congregação do Ofício da Santa Inquisição Romana e Universal. Durante sete anos na cadeia, onde suas únicas posses, além da esfarrapada roupa do corpo, eram três velas gastas, as quais deviam ser usadas sabiamente a fim de durarem, e algumas folhas de papel, onde passa a redigir sua “última confissão” no ano de 1600, vive um período de grande tensão, ante a inclemência do Tribunal Eclesiástico para com os acusados por heresia.
          Na companhia apenas de suas ideias, Giordano Bruno perpassa por toda a sua vida, buscando razões claras para compreender a rigidez da Igreja Institucional, na defesa da integridade de sua doutrina. Sua acusação estava no fato de ele ter dito que a divina ciência está toda em tudo, preenche tudo, difunde-se em tudo. Essa seria a vida das vidas e a alma das almas. Existiriam dois princípios ativos do movimento: um finito e movendo-se no tempo e outro infinito, que está na natureza da Alma do Mundo, na verdade da Divindade, que está em toda parte e em tudo. A isto se somava uma outra lista dos acusadores, segundo o qual Bruno teria atacado a doutrina cristã ao dizer que os milagres de Cristo eram truques mágicos, e também a Igreja, quando diz que os padres seriam asnos vendendo-se para outros asnos e a própria instituição corromperia a mensagem do Evangelho, na busca por converter os homens pelo medo e não pelo amor.
          A expulsão de Bruno de sua ordem, o fizera peregrinar pelo mundo na busca por ser manter. Nesta trajetória ele não exclui sua vida devassa nos diversos encontros que teve com as mulheres. Sempre fiel às suas ideias, procurava ganhar a vida com suas habilidades na arte mnemônica. Por fim, este mesmo talento é o que o conduziria ao cárcere, quando Messer Mocenigo, acreditando ser isto uma arte mágica que Bruno se recusava ensinar-lhe, decide entrega-lo a Inquisição.
          A firme sustentação de suas ideias foi o que levou Giordano Bruno a ser queimado na fogueira, no Campo dei Fiori, em Roma, a 17 de fevereiro de 1600. O parágrafo seguinte resume a sua vida e seu relato, em suas próprias palavras: “O que quero dizer, neste meu último testamento, é que sei quem sou, o que tenho sido e o que acreditam que eu seja: padre fracassado, monge fugitivo, mago com uma caixa de truques, fanfarrão, prevaricador, pseudoportador do archote, arrastando-se lentamente em sua própria escuridão, tagarela no diálogo, viperino no debate. Tudo isso! Mais, se puderem encontrar as palavras!” (p. 113). A morte na fogueira destroi a vida de Nolano, mas não a sua integridade como filósofo: “Havia em mim / aquilo que nenhum século futuro / negará: que não temi morrer, / que preferi uma morte corajosa a uma / vida não combatente” (p. 147).
          O romance “A Última Confissão” é uma reconstrução do personagem histórico Giordano Bruno, quatrocentos anos depois de sua morte. No entanto, trata-se de uma obra não acabada, já que Morris West faleceu enquanto terminava o livro. Mesmo assim, a profundidade com que o autor aborda, de forma fictícia, a vida do personagem, e seu acurado trabalho de pesquisa para dizer algo sobre ele, colocam esta obra como um best-seller consagrado de sua carreira literária. Um romance intrigante e envolvente de um personagem espirituoso e indagador. Um verdadeiro testamento, do homem que aceita pagar o preço de suas convicções.
 
WEST, Morris. A Última Confissão. Rio de Janeiro: Record, 2001. 256 pgs.

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