Autor famoso por retratar trechos emblemáticos
da história brasileira em seus romances, especialmente o período da ditadura,
desta vez Frei Betto destaca o período áureo da mineração. Esse é o segundo romance
dele no gênero de ficção histórica, sendo precedido apenas por Um Homem chamado Jesus.
Inicialmente, totalmente dentro do contexto, o
título da obra faz referência à Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, uma das
capitanias surgidas após a Guerra dos Emboabas, no ano de 1709. Contudo, a
história aqui narrada remonta a um período bem mais precoce, de forma que o
autor percorre por cerca de quinhentos anos da história brasileira,
especialmente aqueles em que o ciclo do ouro constituiu-se na maior riqueza da
nação, atraindo a cobiça dos mercados estrangeiros.
O foco da narrativa é um misterioso mapa que
estava sob o poder da família Arienim. A partir dele, o leitor percorrerá pelas
várias gerações dessa família, desde as primeiras bandeiras que desbravaram o
interior do país em busca do ouro até a chegada de uma empresa mineradora de
sucesso às minas de Morro Velho. Logo, embora outras regiões brasileiras
contribuam para melhor compor o espaço na qual o enredo se constrói, o foco é o
estado de Minas Gerais, especialmente as terras de cidades que mais tarde
viriam a se tornar no que hoje conhecemos como Ouro Preto, Mariana, São João
Del Rey, Sabará, etc..
A história da saga da família Arienim na busca
pela realização da promessa dourada daquele mapa é narrada em terceira pessoa,
através de apontamentos, sendo que cada um dá ênfase a um membro desta família
aguerrida. Tudo começa no Vale do Tripuí, região do que mais tarde viria a se
tornar o município mineiro de Mariana, onde as primeiras esperanças de
encontrar ouro se realizaram: o ouro preto. Para a sociedade daquele tempo, os
primeiros lampejos do metal justificavam o abandono de suas principais
atividades laborais a fim de que se dedicassem integralmente à procura do metal
que transformaria definitivamente suas sofridas vidas: “Logo a notícia do ouro do Tripuí ganhou asas, correu vozes, suscitou
delírios. (...) A lavoura perdeu braços; a defesa, militares; as embarcações,
tripulantes. Padres trocavam a batina pela bateia. (...) Todo cavalgavam na
fantasia de desentranhar da terra o metal que produziria a alquimia de suas
vidas.”
Frei Betto usa um linguajar bastante típico e
brinda o leitor com uma verdadeira imersão na cultura mineira. A conexão da
estória da família Arienim na história de Minas Gerais ocorre de forma
perfeita, percorrendo episódios elementares que ressaltam a importância do
estado mineiro no contexto brasileiro: as bandeiras, a exploração do ouro, os
cultos religiosos (especialmente o Triunfo Eucarístico), a Inconfidência
Mineira (o apontamento dedicado a Tiradentes é épico), a obra de Antônio
Francisco Lisboa (o Aleijadinho), finalizando no desfecho em que o último
Arienim finalmente descobre a ligação entre o fragmento de mapa que sua família
tanto cultuava e o anel de diamante que ninguém menos do que Elizabeth Taylor
portava durante um evento.
Ciente do desafio de que os romances históricos
acabam por inevitavelmente retratar o ponto de vista histórico de seus autores,
Frei Betto constrói uma paródia da história oficialmente consagrada. Trata-se
de uma leitura própria dos fatos e acontecimentos, a partir da vivência e do
contexto de seus personagens fictícios, algumas vezes sendo fiel à cronologia
dos acontecidos, outras vezes fazendo uma releitura fantástica para narrar
determinado fato com tons de sensacionalismo. Portanto, há quem diga que Minas do Ouro seja mais uma metaficção
historiográfica do que um típico romance histórico, uma vez que conta uma visão
alternativa, sob a perspectiva daqueles que não eram personagens cujos nomes
foram consagrados pelos história convencional. Na dedicatória da obra, o autor
homenageia os 300 anos de fundação de Ouro Preto, Mariana e Sabará. Porém, a
escrita dessa obra homenageia os mineiros e principalmente aqueles que
derramaram sangue e suor na busca do metal precioso que fez com que o Brasil
conquistasse ainda mais o olhar de Portugal e do mundo, ainda que com
interesses meramente exploratórios.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Minas do Ouro
Autoria: Frei Betto
Editora: Rocco
Ano: 2011
Local: Rio de Janeiro
Gênero: História | Épico