domingo, 23 de outubro de 2016

A Casa dos Macacos (Sara Gruen)



         Assim como seu best-seller Água para Elefantes, a autora Sara Gruen repete a fórmula de construir uma história em que os animais se misturam às pessoas em uma trama repleta de emoções.
         Isabel Duncan é uma cientista que trabalha em uma empresa cuja missão é realizar estudos sobre o desenvolvimento da linguagem com animais. Ela atua com uma espécie de macacos bastante singular, que havia aprendido a manifestar suas vontades através da Linguagem Americana de Sinais (LAS), de forma que conseguiam se comunicar perfeitamente com os humanos. Contudo, um atentado ao centro de pesquisas terminara no quase assassinato de Isabel e no desaparecimento de uma família de bonobos que a cientista considerava como parte de sua própria vida.
         Havia rumores de que o crime fora cometido por manifestantes da "Liga de Libertação da Terra" (LLT), que era contra a pesquisa com animais, embora tais estudos não trouxessem qualquer dano à integridade física e psíquica dos símios. A recuperação de Isabel fora lenta e deixara cicatrizes que somente o tempo e algumas cirurgias especiais iriam reconstruir. Contudo, a maior ferida era não saber o que fora feito dos macacos que ela aprendera a amar durante seu trabalho.
         No dia da explosão Isabel fora entrevistada por John Thigpen, um jornalista do New York Gazette. Ao saber do trágico acontecimento no centro de línguas dos Grandes Símios, ele passa a acompanhar mais de perto as investigações. John levava vida divida entre seu trabalho e o convívio com a esposa Amanda que era obcecada por uma carreira de escritora cujos livros não despertavam interesse nas editoras. Ao pedir demissão de seu emprego por causa de uma rixa com outra jornalista, John consegue trabalho em um jornal cuja opinião da imprensa não era das mais favoráveis, em virtude das manipulações que faziam com as notícias.
         Isabel descobrira que os macacos haviam sido vendidos pela universidade que bancava o projeto para um proprietário que pedira sigilo em relação à sua identidade. Paralelamente um novo reality show vinha prendendo a atenção dos espectadores na cidade: uma casa onde vários macacos eram filmados vinte e quatro horas por dia. Os comportamentos inusitados e, principalmente as várias cenas de sexo entre os animais eram o que justificava tamanha audiência. Para Isabel, no entanto, aquilo era uma afronta a tantos anos de dedicação. Ela iria descobrir que o dono daquele empreendimento era Ken Faulks, proprietário da Faulks Enterprises que lucrava com o programa "Casa dos Macacos". Ela e John Thigpen descobririam todo o plano armado em cima do atentado ao centro de línguas e seriam pegos de surpresa ao descobrirem que o principal colaborador daquela farsa era alguém muito próximo a Isabel.
         Esse livro é fruto de uma visita da autora ao Great Ape Trust, em Des Moines (Iowa). Sara se encantou de tal forma com o contato com os macacos que decidiu aprimorar os estudos em linguagem e sistemas de lexigramas a fim de conhecer um pouco mais sobre esses mamíferos tão semelhantes aos humanos. A obra é uma homenagem aos animais e um convite à convivência pacífica entre os homens e a fauna.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Casa dos Macacos, A
Autoria:    Sara Gruen
Editora:    Record
Ano:         2011
Local:       Rio de Janeiro
Gênero:    Drama | Reality shows 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Inferno (Dan Brown)

            Mais um sucesso de vendas literário que foi adaptado para as telas do cinema, Inferno é a quarta aventura do ilustre professor de simbologia de Harvard, Robert Langdon, que consagrou Dan Brown como um autor de sucesso.
Os livros anteriores das aventuras vividas por Robert Langdon – Anjos e Demônios, O Código Da Vinci e O Símbolo Perdido – trouxeram temas polêmicos que atacavam diretamente a doutrina da Igreja Católica. Nesse novo volume, os aspectos da religião e do sagrado permanecem, porém dão à ciência o seu lugar de destaque na trama que a narrativa apresenta, de forma que a história possui uma teoria que é seu eixo central: o crescimento populacional e suas implicações para o futuro da humanidade.
Robert Langdon acorda em um hospital e logo se vê lançado em uma fuga desenfreada, tendo por companhia Sienna Brooks, médica superdotada e agente secreta. A amnésia que sofrera o impedia entender o porquê vinha sendo perseguido e principalmente o motivo pelo qual, por pouco, não havia perdido a vida em meio a um tiroteio. Nesse ínterim, Sienna lhe revelaria grande parte das últimas horas cruciais que Langdon não conseguia rememorar.
O grande artefato nas mãos de Robert dessa vez era uma cápsula que projetava o chamado “Mapa do Inferno”, uma pintura famosa de Botticelli, que retrata um dos capítulos da aclamada obra de Dante Alighieri, A Divina Comédia. Contudo, o mais intrigante era que a imagem havia sido adulterada, de forma que uma mensagem misteriosa pudesse ser vista: “Cercatrova”. Era o enigma deixado por um emblemático geneticista cujas ideias apocalípticas eram o motor da ameaça que os protagonistas tentavam evitar.
Bertrand Zobrist, morto por suicido na noite anterior ao dia em que toda a história se desenvolve, era um cientista que cria piamente na Teoria Malthusiana, segundo a qual o crescimento desmedido da população não seria acompanhado pelos recursos existentes no planeta para garantirem a sobrevivência de todos. Dessa forma, a solução, ainda que trágica, seria uma redução significativa do número de habitantes ou o impedimento de que novos indivíduos nasçam. Adepto ao transumanismo, tal corrente apoiava todas as mais avançadas tecnologias para que o ser humano pudesse atingir a perfeição. Dessa forma, um extermínio em massa talvez fosse a solução, em curto prazo, mais viável para expurgar o mundo.
As investigações de Langdon e Sienna levariam à descoberta de um possível vírus criado por Zobrist, que seria o início do processo de expurgo da humanidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) na pessoa de sua presidente, Dra. Elizabeth Sinskey, também tinha interesses na descoberta do local que Zobrist escolhera para disseminar seu agente infeccioso. Para tal, colocara o Agente Brüder, membro do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) na cola dos fugitivos, confiada na capacidade intelectual de Langdon e na sagacidade da perspicaz Dra. Brooks.
A narrativa é cuidadosamente construída e enriquecida com aspectos históricos e geográficos minuciosamente pesquisados que fornecem maior credibilidade aos temas abordados. Assim como fez ao construir suas histórias tendo como espaço cidades famosas – Vaticano, Paris, Washington - como um acompanhamento de sua louvável criatividade, a história escrita por Dan Brown nesse livro brinda o leitor com a apresentação turística de mais uma importante cidade do contexto mundial: Florença. Literatura, arte e história dão os contornos de uma narrativa em que não falta suspense e principalmente informação. Não é por acaso que mergulhar em um dos livros de Dan Brown acaba por ser uma forma lúdica e ricamente prazerosa de aprender mais sobre a história da humanidade e o significado de alguns ícones que ela criou. Aqueles que esperam uma solução para o problema que a narrativa encerra, talvez se decepcionem com o final. Seria ele apenas um convite à reflexão ou uma janela para uma continuação ainda mais envolvente? Opiniões à parte, o certo é que o autor deixou seus leitores insatisfeitos com esse gosto de quero mais.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Inferno
Autoria: Dan Brown
Editora:  Arqueiro
Ano:       2013
Local:     São Paulo
Gênero:  Ficção científica | Suspense

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2016:




segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O Temor do Sábio (Patrick Rothfuss)



"Lembre-se de que há três coisas que todo sábio teme: o mar na tormenta, uma noite sem luar e a ira de um homem gentil"
 
         A trama narrada nesse volume dá continuidade à história de Kvothe, contatada por ele mesmo, iniciada em O Nome do Vento. Como no primeiro volume, o espaço narrativo ocorre na Pousada Marco do Percurso, tendo como ouvintes o Cronista (o escriba do Rei) e o criado, Bast. Trata-se do segundo dia da narração das memórias de uma lenda de seu tempo.
         Kvothe continua sua narrativa a partir dos tempos vividos na Universidade em Imre. Como garoto pobre e órfão, às suas dificuldades eram acrescidas as desavenças que tinha com os professores, o que lhe sempre rendia uma alta taxa de matrícula e a rivalidade com Ambrose, que nesse ano culminaria em um episódio gravíssimo para um estudante: o incêndio em seus aposentos. Orgulhoso que era, Kvothe não cedia às pressões impostas pela severidade dos professores e contava sempre com o socorro de Demi, que lhe emprestava dinheiro, ainda que a altas taxas. Não fossem os trabalhos na Ficiaria, dificilmente conseguiria terminar o período letivo. Contudo, o que mais alimentava sua coragem era o desejo de desvendar os mistérios envoltos no assassinato de seus pais e de sua trupe de Edena Ruh pelo misterioso mito do Chandriano.
         Embora um dos destaques acadêmicos da Universidade, certa vez Kvothe fora aconselhado por um de seus professores a se afastar dos estudos por um período. Mesmo que a contragosto, acatou às recomendações e partiu rumo a uma missão especial durante esse tempo. Kvothe fora mandado a Severen, para que servisse a um homem que designavam como Maer Alveron e, segundo diziam, era mais rico do que o Rei de Vint. Mesmo entediado pelas firulas da alta sociedade, Kvothe sabia sobre a importância de se submeter obedientemente àquele homem, uma vez que ele era capaz de lhe recompensar de tal sorte que não precisaria se preocupar com a taxa de matrícula por um bom tempo, além de ser um forte patrocinador para sua carreira musical. No entanto, o Maer convocaria Kvothe para uma missão arriscada em que somente uma boa dose de sorte não seria suficiente para concluí-la com sucesso. Suas habilidades como arcanista seriam provadas.
         Hespe, Tempi, Dedan e Marten era o grupo de mercenários que acompanharia Kvothe em sua missão. Caberia eles adentrar por uma floresta e encontrar um grupo de bandidos que vinha roubando o dinheiro dos impostos que eram recolhidos. Os mercenários possuíam características marcantes: gênio forte, foco em seus objetivos, lealdade para com seus superiores. Dos quatro, Tempi era um ademriano de pouquíssimas palavras. Ainda assim, tornara-se o mais amigável para Kvothe, que com ele aprendeu diversas curiosidades à respeito de sua cultura. A mais intrigante era algo relacionado a certa "Lethani" que lhe soara com uma espécie de força harmônica que controla o universo e segundo a qual todas as outras coisas deveriam se pautar para que a energia cósmica se mantenha em equilíbrio.
         No acampamento na floresta, a figura de Kvothe que já era cercada de mitos inacreditáveis, ganhara um novo capítulo. Feluriana era uma mulher mítica segundo a qual se dizia, seduzia os homens e os levava para os recônditos da floresta, de onde jamais regressavam. Kvothe fora uma de suas vítimas, mas conseguira voltar ileso do encontro freneticamente erótico não somente com o ser dos Encantados, mas também com o Cthaeh, uma árvore lendária que e uma das criações míticas mais arrepiantes da literatura.
         Após encerrar a missão com sucesso, Kvothe parte para as terras de Tempi em Haert, onde é versado em uma cultura em que as palavras davam lugar à expressão corporal, cultuando o silêncio ao extremo. Em seu regresso, encontra a pessoa que sempre alimentou em seu amor platônico, cuja uma briga havia dado mostras de um rompimento quase definitivo. Kvothe descobriria situações desagradáveis por que passara Denna e se afeiçoaria ainda mais por aquela garota de muitos nomes.
         A sequência da crônica do matador do rei segue o mesmo fio narrativo do primeiro volume: uma história minuciosa, onde as respostas vão se revelando a cada capítulo, mesmo sendo lento e extremamente detalhado o ritmo em que fluem suas partes. Contudo, o mundo e a trama criada por Rothfuss aguçam ainda mais o desejo por conhecer o desfecho final dessa trilogia.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:    Temor do Sábio, O
Autoria:  Patrick Rothfuss
Editora:  Arqueiro
Ano:       2011
Local:     São Paulo
Série:     Crônica do Matador do Rei - Livro II
Gênero:  Ficção fantástica