Homenageando
pessoas que morreram na dura lida do corte de cana, o autor desse livro cria
uma história surpreendente onde trata temas distintos, sendo o principal deles
a difícil vida rural na colheita da cana-de-açúcar. Uma obra simples, porém
profunda ao refletir a questão do trabalho escravo, tão discutida e combatida
em variadas épocas e contextos.
A
protagonista da história é Marta, uma adolescente de origem humilde do interior
de São Paulo. Vivia com o pai Pedro, o irmão Altair e a mãe Zefa, sendo que os
ganhos que o pai e o irmão obtinham na roça eram o sustento da família. Marta
era uma garota inconformada com a difícil situação que viviam e com a
exploração por que passavam o pai e o irmão. Via nos estudos a esperança de um
futuro melhor, mesmo que a contragosto do pai. Num dia corriqueiro, ao voltar
para casa é surpreendida pela notícia de que teriam de se mudar, pois o dono da
fazenda iria alugá-la para o plantio de cana. Deste modo, acontece o êxodo rural
daquela família para uma cidade maior, onde teriam maiores oportunidades.
Guariba
era uma cidade essencialmente formada por boias-frias e suas famílias. Pedro e
Altair passaram a trabalhar na colheita de cana, mas um acidente trágico arruinaria
ainda mais a vida daquela família. Naquele dia, Marta acordara atrasada, forçando
seu pai e o irmão tomarem outra condução. O caminhão que transportava os
trabalhadores tombou na ponte do Córrego Grande, deixando vários mortos e
feridos. Altair até fora hospitalizado, mas não resistiu aos ferimentos e
morreu no dia de seu aniversário. Desde então, Sr. Pedro sempre julgou Marta culpada
pela morte daquele filho trabalhador e dedicado.
Inconformada
com a atitude do pai Marta decidiu ir para a lavoura usando o disfarce de “Mudinho”.
Todos se impressionavam com aquele trabalhador calado e ligeiro no corte da
cana, melhor do que muitos homens. Contudo, o que era mais difícil para Marta
era conciliar o trabalho com os estudos, o que fez com que seu rendimento na
escola caísse consideravelmente. Mesmo assim, sua professora Tânia se
aproximara amigavelmente da aluna, tornando-se sua maior confidente,
principalmente em relação à paixão que Marta vinha sentindo pelo garoto Agenor.
Todavia, o ciúme de outra trabalhadora, Ângela, fez com que a farsa de Marta
fosse descoberta. Seu plano não poderia mais continuar oculto, mas serviu para
mostrar ao pai que ela era tão boa de serviço quanto o finado irmão.
Marta
e Altair se envolveram com as atividades do sindicato e, a situação terrível a
que os trabalhadores eram submetidos mobilizou todos para uma greve geral. O
resultado foi desastroso devido ao confronto com a polícia, mas culminou num
acordo de garantia dos direitos trabalhistas para os boias-frias. Para Marta,
no entanto, o que mais significava era a vitória pessoal que obtivera ao
reconciliar-se com o pai, uma vez que este finalmente se sensibilizou quando
Marta salvara sua vida por duas vezes naqueles confrontos. Luiz
Puntel trata problemas importantes como o êxodo rural, o trabalho escravo e a
discriminação para com as mulheres. Paralelamente, a personagem Marta expressa
a figura de uma pessoa motivada em melhorar sua própria vida, a daqueles que ama
e da sociedade como um todo, ao mesmo tempo em que vivencia as aventuras
amorosas da fase da adolescência. Ao invés de encolher-se diante do machismo do
pai, ela toma os rumos da própria vida e torna-se a principal mobilizadora da
greve geral dos trabalhadores, juntamente com Agenor. A vitória obtida por eles
é a máxima expressão de que uma cana sozinha pode ser facilmente quebrada, mas
quando formam um feixe dificilmente se rompem. Enfim, Marta é um ícone para juventude
de todos os tempos.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Açúcar Amargo
Autoria: Luiz Puntel
Editora: Ática
Ano: 1997
Local: São Paulo
Edição: 13ª
Série: Coleção Vaga-lume
Gênero: Infanto-juvenil | Drama