Na
vasta bibliografia de Frei Betto esse é um livro de contos. Como o próprio
título já deixa claro, o número dos contos é especificamente definido, assim
como o escopo dos temas tratados em cada um.
O
número 13 para os contos diabólicos não é arbitrário. Refere-se àquilo que já é
senso comum, de que tal número está imbuído de azar. Talvez caiba a pergunta: e
por que não o 7 para os contos angélicos, já que o senso comum consagrou esse
número como o algarismo da sorte? Creio que o único conto angélico dessa
coletânea seja como uma espécie de refrigério após tantas narrativas sórdidas,
ressaltando desse modo o caráter essencialmente trágico que permeia o contexto
da vida humana. Muito embora o desfecho da história narrada não seja tão feliz,
não se deve confundir felicidade com bem-aventurança.
Os
contos de Frei Betto trazem situações do cotidiano cuja moral muitas vezes
atenta contra as boas virtudes. Não há figuras míticas ou lendárias como
criaturas horrendas e malévolas munidas de garfos, fogo e escudos a aterrorizar
os mortais, exalando um cheiro pútrido e sulfuroso, habitantes de locais sórdidos
e obscuros cujo calor ardente ultrapassa os limites suportáveis pelo corpo
humano. O que há são referências às insígnias do mal, que ora pode se
manifestar como uma vantagem aparentemente insignificante, ora como uma pessoa
extremamente atraente e sedutora. Imagens à parte, uma característica presente
em todos os contos é a referência a uma criatura maléfica, que circunda pessoas
e situações à semelhança de um espectro invisível, porém extremamente atuante. Para
identificá-la, vale destacar a variedade de nomes para referir-se ao mesmo ser:
Cão, Beiçudo, Bode-preto, Tinhoso, Cujo, etc.. Todos eles igualmente extraídos
da cultura popular.
Cada conto trabalha
um tema de desvirtude por meio de uma história inteiramente plausível, atual e
corriqueira. Desse modo são retratadas as diversas faces com que o mal pode se
revestir: uma mulher bonita e bem vestida, traduz a vaidade extrema, bem como a
tentação ao adultério; uma soma de dinheiro considerável instiga ao crime de
peculato; um procedimento administrativo burocrático abrange diretamente a
ineficiência das políticas públicas; o fascínio quase surreal da televisão
indica a prisão que as algemas da mídia pode ocasionar.
Outro ponto de
destaque nessa obra são os traços regionalistas da cidade natal do autor. Cenários
de Belo Horizonte como a Avenida Afonso Pena, Parque Municipal, Rua Guaicurus e
o Minas Tênis Clube estão presentes como espaço em alguns contos, por exemplo,
em Viagem do inconsciente à loucura de
uma noite de núpcias.
Em síntese, esse
livro é absolutamente reflexivo no que diz respeito ao cunho moral, só que de
uma forma que se desapega da tendência moralizante que os ensinamentos
geralmente adotam.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Treze contos diabólicos e um angélico
Autoria: Frei Betto
Editora: Editora Planeta do Brasil
Ano: 2005
Local: São Paulo
Edição: 1ª
Gênero: Política