sábado, 21 de setembro de 2013

Branca de Neve e o Caçador (Lily Blake / Evan Daugherty / John Lee Hancock / Hossein Amini)


            Baseado no célebre conto dos Irmãos Grimm, esta obra busca contar de uma forma mais carregada de suspense, a história sempre repetida a crianças do mundo inteiro. O livro traz uma adaptação literária do longa-metragem lançado em 2012. Uma aventura repleta de emoções!
            Durante um conflito em um certo reino, uma mulher havia sido salva da morte e ficara sob a guarda do rei. Esta mulher pareceu graciosa ao rei e a sua filha, Branca de Neve, vindo a casar-se com ele e a tornar-se Ravenna, a nova rainha. Porém, na mesma noite em que se casara, Ravenna também assassinara o rei, sucedendo-o no trono e aprisionando Branca de Neve em uma masmorra.
            Dez anos se passaram e a Ravenna não bastava que somente fosse rainha, mas também ambicionava ser a mais bela rainha, cuja juventude jamais a abandonaria. Contudo, seu espelho confidente lhe revelara que somente quando tivesse em mãos o coração de Branca de Neve poderia quebrar definitivamente o encanto, não mais sendo necessário sugar a juventude de donzelas para manter-se bela e jovem. Com isso, ordena seu irmão e guardião Finn que vá até a masmorra e arranque o coração de Branca de Neve. Porém, o descuido dele permitiu à garota fugir do castelo e se adentrar pelos tortuosos caminhos da Floresta Sombria. Caso a menina fosse destruída pelas criaturas que lá viviam, o plano de Ravenna estaria definitivamente arruinado.
            A Floresta Sombria era temida por todos no reino, menos por um caçador que conhecia bem seus perigos. Eric era esse caçador, que vivia bêbado pelas tavernas, angustiado com a morte precoce da esposa. Ravenna o convocara sob a promessa de trazê-la de volta, caso capturasse Branca de Neve e lhe arrancasse o coração. Cego pela dor, Eric aceita a proposta, mesmo sem entender como o cometimento daquele crime pudesse ser útil à rainha.
            Na Floresta Sombria, o encontro com Branca de Neve abre-lhe os olhos para compreender toda a verdade de seu engano. A fúria o domina e ele se esforça por ajudar a garota a encontrar o Duque Hammond e Willian, pessoas que a salvaram da morte no dia fatídico do assassinato de seu pai. Contudo, era necessário primeiro sair com vida daquela floresta misteriosa, povoada de criaturas horrendas e famintas. Além do mais, Finn e seus soldados também saíram à procura de Branca de Neve, temerosos com a traição de Eric. Até mesmo a própria rainha Ravenna seria capaz de adentrar a floresta para cumprir seu intento. Mas Eric e Branca de Neve não estariam sozinhos e receberiam a valiosa ajuda dos anões, peritos em desviar das armadilhas ali escondidas.
            Por ser outra versão de um conto consagrado, essa obra não traz muitas novidades. Talvez o que a torna mais empolgante seja o fato de desconstruir um pouco a imagem infantil do conto de fadas e revestí-lo com um caráter um pouco mais sombrio, certamente capaz de agradar mais aos leitores contemporâneos. A leitura ficará bastante enriquecida caso o leitor assista ao filme depois, a fim de tecer sua própria opinião crítica das duas produções artísticas. Enfim, trata-se de um livro nada cansativo e bastante divertido para distração.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:         Branca de Neve e o Caçador
Autoria:       Lily Blake / Evan Daugherty / John Lee Hancock
Editora:       Novo Conceito
Ano:            2012
Local:          Ribeirão Preto
Edição:       
Gênero:       Fantasia | Suspense | Fábula

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2012:

sábado, 7 de setembro de 2013

Caim (José Saramago)


“A história dos homens é a história 
dos seus desentendimentos com deus,
nem ele nos entende a nós, 
nem nós o entendemos a ele” (p. 88)

            Com seu estilo narrativo característico, José Saramago mais uma vez traduz em suas próprias palavras uma história bíblica, desta vez, tendo um relato do Gênesis como base. Em O Evangelho segundo Jesus Cristo, tivemos como protagonista o próprio Jesus Cristo, sendo narrado criticamente sobre o ponto de vista do autor português. Em Caim, Saramago aproveita as contradições do relato bíblico para confrontar diretamente a visão de que Deus trata os homens com misericórdia e amor.
            Em uma humanidade recém-criada pelo Todo-poderoso, Abel e Caim são os filhos dos precursores da vida humana, Adão e Eva. Expulsos do paradisíaco Jardim do Éden, Adão e Eva são obrigados a enfrentar seus próprios limites físicos e biológicos na necessidade de sobrevivência, uma vez que seu próprio criador havia posto um arcanjo às portas do paraíso, a fim de impedir-lhes a entrada, mesmo para saciar a fome. Seus dois filhos, embora queridos igualmente pelos pais, não agradaram de forma igual ao Senhor. Enquanto Abel pastoreava ovelhas, Caim cultivava o solo e, em agradecimento, os dois apresentaram os frutos de seu trabalho a Deus. No entanto, a oferta de Abel tornara-se mais agradável ao Senhor do que a de Caim. Isto provocou a fúria de Caim que resolveu vingar-se do irmão assassinando-o e mascarando seu crime com a notícia de que ele havia sido morto por um animal selvagem. Contudo, o próprio criador encontra Caim, momentos após consumar sua vingança contra Abel. Desapontado, condena Caim a andar errante pelo mundo, sem rumo certo aonde ir, nem lugar para repousar. A reação de Caim é uma discussão travada diretamente com Deus, acusando-o de que era ele o maior responsável pela morte do irmão, uma vez que se tivesse aparecido antes não o teria permitido levar a cabo sua vingança.
            Se por um lado a notícia da morte do irmão pudesse ser facilmente encoberta pela mentira, por outro o fantasma da culpa estava impregnado a incomodar a consciência de Caim. Mas isso não o impede de seguir sua trajetória. Desta forma, Caim torna-se um peregrino errante pelo mundo, a satisfazer seus desejos sexuais com a rainha Lilith e a vagar sem rumo. Seu curso o levaria a momentos bíblicos importantes como a travessia do mar Vermelho feita pelos israelitas liderados por Moisés; o quase sacrifício do filho Isaac por Abraão, impedido por Caim; a destruição de Sodoma e Gomorra por uma chuva de enxofre; a construção da arca por Noé, quando Deus enviara o dilúvio, cansado das atrocidades humanas. Em todos esses episódios, Caim surge como a figura questionadora, colocando em xeque o agir de Deus, como se este fosse o maior traidor da humanidade.
            A obra de Saramago deixa evidente seu ateísmo e sua discordância frente à imagem de que Deus ama a humanidade. Como em O Evangelho segundo Jesus Cristo, o massacre de crianças inocentes permitido pelo Senhor no episódio da destruição de Sodoma e Gomorra, torna-se o principal motivo para a afirmação de que Deus é cruel e sádico. Diante disso, fica para o leitor o convite à reflexão sobre como é colocada a questão diante de seus próprios valores religiosos. Afinal, Caim aborda de forma clara a questão do agir de Deus e o limite de sua interferência no livre-arbítrio do homem, como sendo a vontade deste o ponto no qual o querer divino não se propõe intervir.

SARAMAGO, José. Caim: romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 174 pgs.