sábado, 27 de julho de 2013

Por que os homens mentem e as mulheres choram? (Allan Pease & Barbara Pease)



            Muito além de buscar uma resposta convincente para a pergunta-título, essa obra faz uma análise de macro-dimensão das tendências comportamentais de homens e mulheres. Os temas e situações são diversos e variados, sempre buscando demonstrar de uma forma um tanto cômica, as diferentes reações de ambos os sexos, frente ao mesmo fato. Importante assinalar que as tendências apontadas nessa obra são verificáveis em casais ocidentais e menos arraigados a tradições milenares. As diferenças culturais podem ditar outras tendências, mas os autores detiveram-se em padrões comportamentais dominantes na maioria das culturas. 
            Não resta dúvida de que a forma de homens e mulheres compartilharem o mundo é completamente diferente. Os maus-hábitos de ambos os sexos (em sua maioria predominantes nos homens) devem ser combatidos com técnicas de reeducação. Assim ocorre com alguns comportamentos que as mulheres detestam neles – por exemplo, os maus-hábitos de higiene – mas que se devem à programação de seu cérebro masculino e àquilo que aprenderam em sua criação. No caso da rabugice, que é o ato de uma pessoa reclamar o tempo todo, manifesta-se mais entre as mulheres. Suas causas podem ir da falta de diálogo, à incompreensão do outro ou mesmo fruto de uma relação de superioridade. Enquanto a mulher sente necessidade de alguém que simplesmente a ouça, o homem exerce o tempo todo seu papel como solucionador de problemas e propositor de soluções. A oferta de conselhos dela a ele é interpretada por este como uma manifestação clara de desconfiança e crença na sua incapacidade. Aprender a usar o "eu" ao invés do "você" e a "treinar o outro" são caminhos para uma melhoria desses defeitos. 
            Alguns hábitos e gostos dos homens, não compreendidos pelas mulheres, remetem ao seu passado biológico como caçadores. A paixão por esportes, por exemplo, é uma forma moderna e adaptada socialmente do instinto selvagem de caça, disputa e competição. Por outro lado, os homens ficam perplexos com a linguagem desenvolvida das mulheres, o que as faz darem extrema atenção aos detalhes, acentuando sua característica de serem indiretas e prolixas. Contudo, ambos compartilham a mesma capacidade de falarem alguma coisa, no intuito de que o/a parceiro/a entenda absolutamente outra.
            Na arte da conquista, os homens são atraídos primeiro pela aparência física e depois pelos traços de personalidade. Eles preferem as formas arredondadas femininas enquanto elas apreciam as formas geométricas masculinas. As mulheres possuem uma espécie de sistema de pontuação inconsciente das ações dos homens, que serve para medir a qualidade da relação entre os dois, bem como o grau de compromisso.
            No relacionamento com a sogra, os autores alertam que os sinais mais conflitivos se dão entre a mulher e a mãe do homem. Neste caso, a sogra sempre deseja que a esposa se torne como uma substituta da figura materna para o filho. Os sogros, por outro lado, podem se sentir incomodados em perder sua "princesinha" mas são menos polêmicos.
            O trabalho e os esportes são os substitutivos modernos para as atividades de caça do homem primitivo. Daí a justificativa para os homens dedicaram tanto tempo às atividades laborais. Contudo, tamanha dedicação o deixa sem rumo ao se aposentar, uma vez que passa a se sentir desnecessário e desperdiçado. A mulher, por outro lado, encara a aposentadoria como um tempo lúdico, de curtição de tudo aquilo que o trabalho não permitia antes.
            Terminadas tais explanações, falta responder à instigante pergunta do título. O choro é visto como tendo três finalidades: 1ª) lavar os olhos; 2ª) reduzir o estresse; 3ª) sinalizar emoções. Com isso, por diversas vezes as mulheres usam do choro para fazerem uma chantagem emocional. Nesses casos, a pessoa manipula emocionalmente a outra para ganhar algo material ou não, ou mesmo possuir a razão em alguma discussão ou impasse. Quanto às mentiras, podem ser classificadas em quatro tipos: 1º) mentira branda; 2º) mentira benéfica; 3º) mentira dolosa; 4º) mentira maliciosa. Os homens mentem para se mostrarem fortes e poderosos diante do interlocutor. As mulheres mentem para fazerem os outros se sentirem bem. Ambos mentem na mesma proporção. Porém, a aguçada percepção feminina lhe dá certa vantagem para detectar quando um homem está mentindo.

PEASE, Allan // PEASE, Barbara. Por que os homens mentem e as mulheres choram? Rio de Janeiro: Sextante, 2003. 208 pgs.

sábado, 13 de julho de 2013

Guerra Mundial Z (Max Brooks)


            Guerra Mundial Z é a obra de maior sucesso de seu escritor, que reinventa o gênero de apocalipse zumbi, de certa forma dando continuidade a outra obra também de sua autoria O Guia de Sobrevivência a Zumbis (2003). Nesse, Max Brooks criara um ambiente fictício, fornecendo mecanismos de proteção a uma possível catástrofe em que os mortos se reanimariam e atacariam os vivos, disseminando pânico e terror. Na obra em questão, esse ambiente se torna realidade, porém contado posteriormente, mediante entrevistas feitas pelo narrador.
             Uma década havia passado desde que o Grande Pânico se disseminara pelo mundo, provocando uma onda de terror nunca antes vista. Agora, o narrador reúne uma coletânea de entrevistas com aqueles sobreviveram ao apocalipse zumbi que, por sinal, haviam sido censuradas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os relatos são impactantes assim como o foram os fatos que se sucederam durante o ataque dos mortos-vivos.
            O início do Grande Pânico é algo desconhecido. Porém, rumores apontam que tudo teria começado na China, após a infecção de um garoto. A partir daí, interesses políticos vigentes favoreceram que o mal proliferasse por várias partes do mundo, ocasionando uma verdadeira pandemia. Na África, aquilo que ficou conhecido como "raiva africana" foi combatido através da criação de zonas de segurança, protegendo os refugiados dos ataques dos zumbis, numa ação que foi denominada por Plano Redeker   . Enquanto isso, nos Estados Unidos ficava evidente o despreparo do governo no enfrentamento da situação, o que favoreceu ainda mais a rápida proliferação do vírus. A rápida infestação em escala global era inversamente proporcional aos esforços empregados diante de um inimigo rápido, invisível e desconhecido que, ao invés de dizimar populações inteiras, criava um exército de mortos-vivos famintos, mesmo que desprovidos de qualquer inteligência ou comando.
            Brooks explora ainda o impacto do apocalipse na economia geopolítica mundial. Em meio aquele clima de terror, espalhou-se o rumor de uma vacina denominada Phanlax que seria eficiente na cura dos infestados. Contudo, o tempo mostraria que era algo complemente ineficiente, trazendo apenas benefícios financeiros ao seu criador que se exilara na Antártida. Não bastassem os mortos-vivos avassaladores, os poucos sobreviventes ainda teriam que vencer as barreiras impostas pelos interesses particulares dos poderosos e os "quislings", pessoas que se tornavam uma ameaça grave pelo simples fato de terem enlouquecido frente ao risco de serem infectadas.
            Durante a Guerra Mundial que o mundo foi lançado, os relatos dos entrevistados deixam evidentes as mudanças nos paradigmas políticos, sociais e religiosos. Os sentimentos compassivos das pessoas por seus "mortos" eram suprimidos em vista de sua própria sobrevivência. Esse instinto falava mais alto do que o de solidariedade. Além do mais, a crise evidenciou o despreparo militar frente à situação de colapso e a ineficiência das políticas dos governantes. Tamanho terror questionou também dogmas religiosos: seria uma punição divina ou o momento de sua manifestação? Sentimentos fideístas à parte, o que mais saltava à vista era o torpor e pânico mundial.
            O livro de Brooks é fruto de uma longa e apurada pesquisa. Segundo o autor, tudo o que está presente nele, a exceção dos zumbis, é real. O estilo da obra em entrevistas traz uma nova forma de abordagem do gênero, até então inexplorada. Em alguns momentos pode até parecer meio cansativo, difícil de compreender, repetitivo. Contudo, vale lembrar que o entrevistador visa mostrar a situação de "Grande Pânico" da perspectiva dos civis, médicos, militares, políticos, religiosos, todos eles sobreviventes da chacina mundial. Verdadeiramente surpreendente e questionador.
            A obra foi adaptada para o cinema e o filme lançado em 2013. Contudo, alguns elementos citados pelos entrevistados no livro estão ausentes no filme, de forma que a adaptação usa a espinha dorsal do obra, sem explorá-la de forma satisfatória.

BROOKS, Max. Guerra Mundial Z: uma história oral da guerra dos zumbis. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. 368 pgs.

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2013: