domingo, 22 de junho de 2014

Wayne de Gotham (Tracy Hickman)


             Esse livro é inovador na literatura do super-heroi da DC Comics. Batman sempre foi um personagem retratado nas histórias em quadrinhos e aqui, pela primeira vez, temos um romance no qual o homem-morcego é o protagonista.
            As origens de Batman representadas nas HQs de Frank Miller e Bob Kane, bem como nos modernos filmes da trilogia O Cavaleiro das Trevas lançados pela Legendary Pictures, apresentam o surgimento da lenda a partir de um evento trágico na vida de Bruce Wayne. Quando ainda era criança, seus pais Thomas e Martha foram assassinados em um fenômeno que deixou muitas cicatrizes e quase nenhuma explicação. Desde então, Bruce ficara sob a guarda do mordomo Alfred Pennyworth, fiel amigo da família Wayne. O desenvolvimento da lenda que culminaria no surgimento de Batman como um justiceiro na cidade de Gotham estava estritamente relacionado à sede de vingança e explicação que Bruce Wayne sempre perseguira em sua vida. Nessa obra, o mistério existencial do homem-morcego vem novamente à tona, principalmente pelas recentes descobertas que poderiam fornecer-lhe definitivamente as respostas que sempre buscara.
            O livro é narrado em dois tempos distintos: em um temos os acontecimentos de 1958, o ano marcante da vida de Bruce, apresentando a figura de seu pai, Thomas Wayne como um médico de sucesso e dono da Wayne Enterprises; em outro o momento é o presente do próprio Batman em sua busca insaciável pelas respostas acerca da morte de seus pais. Dessa forma, os acontecimentos do passado servem para guiar o leitor e facilitar-lhe o entendimento de todo o passado que é obscuro para o próprio Batman. Podemos dizer que o leitor é um privilegiado em relação ao protagonista da história.
            Em Wayne de Gotham temos um Batman já experiente no combate ao crime, porém cansado e desgastado emocionalmente. A centelha que incendeia sua vontade em mergulhar nas feridas de seu passado é a descoberta de um diário que supostamente pertencera ao seu pai. Nele havia algumas referências que indicavam que Thomas participara de uma espécie de experimento clandestino, capaz de varrer a corrupção e o crime de Gotham, financiado pela Wayne Enterprises, mas que não fora bem-sucedido e as consequências não foram boas. Trata-se da desconstrução daquela imagem de uma família ícone de prosperidade e retidão para toda a cidade de Gotham. Em meio a isso, após encontrar uma mulher que se identifica como Amanda Richter a passear pelos jardins da segura Mansão Wayne, Bruce suspeita de que seu mordomo Alfred pudesse estar escondendo algo. A relação entre um e outro fica cada vez mais tensa e até mesmo se rompe quando Alfred confessa sempre ter guardado um segredo para o bem do próprio Bruce.
            Produções sobre Batman sempre apetecem a vontade em encontrar tramas recheadas de perseguição, lutas, suspense, que enfim retratem o super-heroi em ação. Essa obra, contudo, deixa a desejar no que diz respeito a isso para permitir um mergulho mais profundo na ontologia do personagem. Até há a presença de alguns inimigos famosos como a Harley Quinn (sem as tradicionais roupas vermelho e preto circenses) e o famoso Coringa (exatamente como vilão sádico do filme O Cavaleiro das Trevas). Porém, são presenças rápidas e não essenciais para a compreensão do todo da obra, mas que fornecem momentos de alta adrenalina. Algumas partes são enfadonhamente descritivas, mas parece que o autor possui um gosto particular pelos diversos apetrechos que compõem a batroupa e o batmóvel. O Asilo Arkham é um cenário importante no espaço dos acontecimentos, já que foi o palco de ocorrências importantes da vida do homem-morcego e de seus pais. Enfim, Wayne de Gotham é uma obra ímpar para os fãs de Batman e talvez soe como uma incógnita para aqueles que ainda são leigos no assunto ou o conhecem somente a partir das produções cinematográficas.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:         Wayne de Gotham
Autoria:       Tracy Hickman
Editora:       Casa da Palavra
Ano:            2013
Local:          Rio de Janeiro
Edição:       
Gênero:       Aventura | Drama

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Um Amor para Recordar (Nicholas Sparks)


           A história desse livro é uma bela amostra de que duas vidas diretamente opostas podem se cruzar e serem transformadas, mesmo que, a princípio, não tenham nada em comum. É também uma prova de que a vida dá muitas voltas e pessoas as quais não tenhamos nenhum tipo de admiração podem vir a se tornar protagonistas de transformação de nossas próprias histórias. A narração do texto é feita pelo próprio personagem, que revive suas memórias, quarenta anos depois dos acontecimentos que mudaram para sempre sua vida.
            Na pequena cidade de Beaufort, Carolina do Norte (EUA), no ano de 1958 dois jovens frequentavam o último ano antes da faculdade na escola High Beaufort. Cresceram na mesma cidade, porém nunca tinham convivido diretamente juntos. Landon Carter, 17, era um jovem rico e rebelde, preocupado somente em curtir a vida, impressionando seu seleto grupo de amigos com atividades cada vez mais ousadas. Em outro plano, Jamie Sullivan, 16, era filha do reverendo Hegbert Sullivan, e levava uma vida austera, focada nos estudos e nas atividades da confraria de seu pai. Os amigos de Landon ridicularizavam o modo de vida casta que Jamie levava e ele se rendia aos comentários, muitas das vezes sendo ouvido até mesmo pela própria garota.
            Um baile fora organizado na escola em que ambos estudavam. Landon achava que dificilmente ficaria sem par, mas todas as garotas legais já haviam sido convidadas. Além do mais, os dois estavam participando dos ensaios para a peça de Natal que seria apresentada na cidade e, obra do acaso, eram os protagonistas. Diante disso, por medo do vexame de ficar sem par, Landon opta por outra escolha não menos vergonhosa: ir ao baile com a garota santa que era vista sempre carregando uma Bíblia pela escola. Jamie aceita o convite, mas deixa a Landon uma estranha recomendação: que ele não se apaixonasse por ela.
            Os dias passados após o baile e a peça de Natal fizeram com que Landon fosse tendo suas opiniões a respeito de Jamie mudadas e seu coração adquiria cada vez mais uma afeição muito grande por ela. Tanto que já não se importava com os comentários maldosos e a zoação dos colegas. Landon não podia mais esconder seu sentimento apaixonante por Jamie e esta se esquivava, mesmo sentindo o mesmo por ele. Daí veio a terrível revelação que os uniria ainda mais: Jamie estava com leucemia e seu quadro clínico não era nada animador. Os episódios finais explicam o porquê do conselho que o autor dá ao seu leitor de que "no início iria sorrir, mas no final iria chorar". 
            A mensagem bem ao estilo de Nicholas Sparks que esse livro traz é mais uma prova de sua convicção de que um romance entre duas pessoas nunca é fruto do acaso e sim algo capaz de vencer as situações mais adversas da vida. É bonito ver a transformação que Landon passa, primeiramente porque adentra e compreende o mundo em que Jamie vivia e, depois, o porquê de sua fé inabalável, bem como a justificava para que ela sempre trouxesse uma Bíblia consigo. É a lição de que cada pessoa deve ser vista como tendo uma história, muitas das vezes, movida por forças que não estão sujeitas a seu controle. Outro ponto interessante a ser observado é o amor que se fortalece pelo sentimento de compaixão onde, mesmo que traga sofrimento, perda e dor, mantém-se firme e constante, dando significado à vida. Somente assim é possível sentir plenamente a força maior, capaz de superar barreiras físicas e subjetivas que é o amor. O livro foi adaptado para o cinema - embora com um roteiro que destoa bastante do enredo - e lançado em 2002 pela Warner Bros.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Amor para recordar, Um
Autoria:     Nicholas Sparks
Editora:     Novo Conceito
Ano:          2011
Local:        Ribeirão Preto
Edição:     
Gênero:     Romance | Drama

 Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2003:

segunda-feira, 2 de junho de 2014

90 Livros Clássicos para Apressadinhos (Henrik Lange)


            A vida de leitores assíduos normalmente confronta-se com um paradoxo possível, porém improvável: diante de milhares de clássicos antigos e contemporâneos quais escolher quando se deseja ler todos? Como controlar a desilusão ao entrar sedento em uma livraria, deparar-se com milhares de títulos interessantes e, de repente, dar-se conta de que é impossível ler todos eles? Esse livro rápido e cômico surge como um elixir agradável e prazeroso para ter uma noção mínima de 90 clássicos literários famosos.
            O objetivo do autor nessa obra é fornecer um pequeno aperitivo de obras, muitas delas, extensas e exaustivas. Com isso, calhamaços que demandariam a atenção dos leitores por diversas horas têm suas histórias resumidas em quatro quadrinhos que cabem numa página. Podemos citar alguns: A Odisseia (Homero), Drácula (Bram Stocker), Orgulho e Preconceito (Jane Austen), O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde), O Senhor dos Aneis (Tolkien) até O Alquimista (Paulo Coelho), único brasileiro da lista.
            Henrik Lange trata as obras resumidas com um tom bastante hilário. De fato é muito engraçado ver como alguns livros clássicos, referências no mundo inteiro, fontes de inspiração para outros autores e para grandes adaptações cinematográficas, de repente são abordados de forma irônica, como se o escopo da história fosse algo não tão interessante quanto parece. Contudo, uma ressalva merece ser feita a fim de evitar dar margem à polêmica: os resumos apresentados das obras representam a opinião de um único leitor que, de forma alguma, deve ser encarada como a expressão da ideia essencial das obras.
            A utilidade desse livro sobre livros depende do propósito do interessado. Para alguns, talvez seja útil ao emitirem alguma opinião, quando interrogados acerca de algum livro que poderiam ter lido e não o leram. Para outros, talvez desperte o interesse ou mesmo fortaleça o ânimo em encarar aquele livro enorme que um amigo indicou há anos, mas que lhe pareceu nada agradável empregar horas a fio em esmiuçar suas entrelinhas. Não faltarão os que se deliciarão em recordar a mensagem essencial de alguma obra ou vê-la resumida em outra opinião, de uma maneira nunca imaginada. Há ainda aqueles que talvez se sintam ofendidos pela forma irreverente com que os quadrinhos retratam obras respeitadas mundialmente, ícones da literatura de todos os tempos, bem como o pouco respeito para com aquilo que autores consagrados quiseram transmitir com extensas histórias. Opiniões à parte, a verdade é que a postura do autor é realmente muito engraçada ao quadrinizar textos importantes, destronando-os de seu caráter sério e, muitas vezes maçante.
            Traduzido e adaptado pelo cartunista brasileiro Ota, 90 livros clássicos para apressadinhos é uma excelente indicação para quem busca cultura e conhecimento sem perder o senso de humor. Talvez seja até mesmo uma alternativa para a alta demanda de informação e o pouco tempo em obtê-las nos acelerados dias atuais. Depois de terminar esse livro, não será ironia dizer a alguns amigos que conseguiu destrinchar milhares de páginas em algumas poucas horas.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:            90 livros clássicos para apressadinhos
Autoria:          Henrik Lange
Editora:          Galera Record
Ano:               2010
Local:             Rio de Janeiro
Edição:          
Gênero:          História em quadrinhos | Livros