sábado, 24 de março de 2012

O Cavaleiro preso na Armadura: uma fábula para quem busca a Trilha da Verdade (Robert Fischer)

o cavaleiro preso na armadura          As fábulas são histórias curtas e fictícias que buscam transmitir uma mensagem de cunho existencial, aos que lhes apreciam. Nesta estória do Cavaleiro preso na armadura, encontramos um bonito exemplo da importância de se enveredar pela jornada na procura da própria verdade.
          Em um reino havia um cavaleiro muito estimado por sua valentia em socorrer as princesas em apuros. O brilho de sua armadura encantava a todos. No entanto, como passava mais tempo dedicando-se ao trabalho e ao polimento da armadura, provocou certa indignação a esposa Juliet e ao filho Cristopher. Diante da ameaça da esposa fugir com o filho, o cavaleiro entra em um dilema e se arrisca na difícil tarefa de libertar-se da couraça de ferro. Neste caminho, conta com a ajuda de alguns amigos: Merlin, um mago morador da floresta; Esquilo, um mamífero; Rebecca, uma pomba; Sam, sua própria voz interior. Dá-se um processo árduo e doloroso, de modo que, quanto mais o cavaleiro se dispunha a se conhecer e aceitar o modo como realmente é, mais se desvencilhava da pesada carcaça da armadura. Caberia a ele ser capaz de ir vencendo o seu orgulho em se conceber como alguém já pronto e suficientemente valente e reconhecer que, atrás de alguém muito corajoso, se oculta uma fraqueza interior. Durante o trajeto, o cavaleiro enfrenta três etapas importantes, representadas em três castelos diferentes: o Castelo do Silêncio, o Castelo do Conhecimento e o Castelo da Vontade e da Ousadia. Tudo isso como parte de um mesmo caminho da Verdade que o conduziria ao topo de uma montanha.
          Longe de ser uma obra infantil, O Cavaleiro preso na Armadura apresenta um conteúdo dirigido para o público adulto. Como é dito no próprio complemento do título, está é uma fábula para quem busca a Trilha da Verdade. Deste modo, o convite feito no livro é o de uma viagem ao próprio interior, a fim de romper com as armaduras que impedem de ser livres e mais disponíveis para atingir e cultivar o essencial da vida. Um livro revelador para todos aqueles que desejam aprender a tornarem-se herois desarmados e sobretudo humanos.
 
FISCHER, Robert. O Cavaleiro preso na Armadura: uma fábula para quem busca a Trilha da Verdade. Rio de Janeiro: Record, 2009. 12ª ed. 112 pgs.

sábado, 17 de março de 2012

Grande Sertão: Veredas (João Guimarães Rosa)

grande sertão veredas“Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento 
da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. 
Viver é muito perigoso...” (p.25)

          João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo a 27 de Junho de 1908. Seus estudos primários foram feitos em Belo Horizonte e São João del-Rey. Em 1925, matriculou-se na então "Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais", com apenas 16 anos.Em 27 de junho de 1930, casou-se com Lígia Cabral Penna, de apenas 16 anos, com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Ainda nesse ano se formou e passou a exercer a profissão em Itaguara, então município de Itaúna (MG), onde permaneceu cerca de dois anos. Foi nessa localidade que passou a ter contato com os elementos do sertão que serviram de referência e inspiração a sua obra. Guimarães Rosa serviu como médico voluntário da Força Pública (atual Polícia Militar), durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Em 1933, foi para Barbacena na qualidade de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Aprovado em concurso para o Itamaraty, passou alguns anos de sua vida como diplomata na Europa e na América Latina. Exerceu, como primeira função no exterior, o cargo de Cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942. No contexto da Segunda Guerra Mundial, para auxiliar judeus a fugir para o Brasil, emitiu, ao lado da segunda esposa, Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, mais vistos do que as cotas legalmente estipuladas, tendo, por essa ação humanitária e de coragem, ganhado, no pós-Guerra, o reconhecimento do Estado de Israel. Aracy é a única mulher homenageada no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto, em Israel. No Brasil, assumiu a cadeira para Academia Brasileira de Letras em 1967. Faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de novembro. Se o laudo médico atestou um infarto, sua morte permanece um mistério inexplicável, sobretudo por estar previamente anunciada em sua obra mais marcante – Grande Sertão: Veredas -, romance qualificado por Rosa como “autobiografia irracional”.
          Nesta obra, Riobaldo Tatarana é um jagunço do bando de Zé Bebelo, a vagar pelo sertão do norte de Minas Gerais. Em meio a essas aventuras, se mesclam os sentimentos de Riobaldo, o próprio narrador, que conta suas vivências e encontros, angústias e desencantos, na sofrida luta de jagunço na travessia do Sertão. Chega um dia e o líder do bando morre, deixando-lhe a impressão de que seu olhar derradeiro o intimava ser novo chefe. No entanto, por voto e escolha dos companheiros, outro jagunço é escolhido. Caminheiro sem rumo nem fututo certo, Riobaldo é alguém que não deixa a crueza de sua lida roubar-lhe a sensibilidade. Além disso, sabe ser afetivo e conservar grande apreço pelos companheiros. Prova disso é seu amor por Reinaldo Diadorim, amigo entre todos o mais estimado. Amor de carne e coração. Enciumado.
          O Sertão é lugar de travessia, descoberta. É o espaço da própria vida, na sucessão de seus acontecimentos e interpretação das experiências: “A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquilo hoje vejo eu era como se fosse diferente pessoa” (p. 98). É onde se dá a surpreendente trama de amor, mistério, conflito, amizade, dor, paixão, superação e traição. Riobaldo sente tudo isso e passa de jagunço errante para jagunço com objetivo, quando o companheiro Hermógenes trai o resto do bando, assassinando o líder Joca Ramiro. A guerra estava declarada. Riobaldo, eleito novo chefe, dedicaria seus dias para vingar o falecido e proteger o querido amigo Reinaldo. Uma batalha dolorosa e arriscada estava firmada. Porém, é neste horizonte de conflito e vingança que Riobaldo desvenda um mistério o tempo inteiro presente, mas sempre mantido em segredo. Suas motivações vinham de diversas paixões: Otacília, Rosuarda e... Diadorim. Mas qual dos três era mais amado? Por quê? Eis aí o grande mistério!
          Com um estilo literário estritamente individual e recheado de neologismos, João Guimarães Rosa busca pintar um quadro nítido da figura do sertanejo: seu linguajar característico, sua amarga vida, sua subjetividade sonhadora. O Sertão é o espaço das descobertas. É travessia: “Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender a viver é que é o viver, mesmo.” (p. 585). Tudo isto fica impregnado afetivamente na memória do narrador-personagem Riobaldo Tatarana.
          Enfim, a obra Grande Sertão: Veredas é um best-seller da literatura brasileira que se consagra pelo teor de sua profundidade. No início é amarga, devido à difícil linguagem e interpretação das intenções do autor, mas ao final torna-se doce pelo significado da história de um jagunço que soube fazer da dureza do Sertão, a vereda de uma bonita travessia.
 
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. 608 pgs.
 
Confira um trecho da minissérie adaptada lançada em 1985:

sábado, 10 de março de 2012

A Cabana (William P. Young)

a cabana          Se Deus é tão poderoso, por que não faz nada para suavizar ou impedir o sofrimento humano? Este é o questionamento central que o livro levanta, ao mesmo tempo em que seu enredo busca dar uma resposta.
          A história é narrada por Willie, um amigo de Mackenzie Allen Phillips – mais conhecido como Mack – que procura contar os passos dados na superação do que para ele era A Grande Tristeza.
          Em um passeio de fim de semana de Mack com seus três filhos – Josh, Kate e Missy – durante o salvamento de Kate e Josh, que estavam se afogando em um lago, a filha mais nova de Mack, Missy, é raptada por um “Matador de Meninas” e terrivelmente assassinada. O único vestígio encontrado da garota foi seu vestido ensangüentado, próximo a uma lareira, numa cabana abandonada. Desde então, Mack sofreu uma profunda mudança de personalidade, se tornando mais melancólico e depressivo, e Kate, cada vez mais introvertida, carregava consigo um sentimento de culpa pelo assassinato da irmã. Quatro anos depois, Mack recebe um bilhete assinado por “Papai”, nome ao qual sua esposa Nan, costumava referir-se a Deus. Era um convite para que Mack retornasse ao local de sua Grande Tristeza, a Cabana. Mesmo receoso de se tratar de uma armadilha do assassino, se prepara e vai no fim de semana próximo. Ao chegar lá, Mackenzie é surpreendido por um cenário completamente diferente de quatro anos atrás e mais ainda, com a presença de três pessoas – Papai, Jesus e Sarayu – os quais se apresentam com sendo o próprio Deus, na Santíssima Trindade. Este encontro leva-o a tomar contato com as feridas causadas pela morte da filha, as marcas do seu relacionamento com o pai, bem como com os sentimentos de raiva, culpa, ressentimento e mágoa provenientes de tudo isso. Ele também encontra diversas respostas sobre a intervenção divina no curso da história dos homens e os motivos pelo qual Deus permite que sofram. Enfim, o encontro com Deus personificado transforma radicalmente sua maneira de encarar a vida e as sombras que os acontecimentos dolorosos lhe causaram.
          O romance A Cabana, inicialmente, havia sido publicado por uma editora de pouca expressão nos Estados Unidos. O sucesso obtido entre seus leitores rendeu-lhe uma posição de destaque entre os mais vendidos. Uma história comovente e dramática é redimida por respostas a questões enigmáticas do ser humano em seu relacionamento com Deus: qual o sentido do sofrimento? Se Deus nos ama tanto por que não nos livra de todos os males? Qual o caminho para superar as estações dolorosas da vida? Assim, de modo tocante e significativo, cada leitor é convidado a, olhando a história de Mack, superar suas próprias feridas, crendo na presença redentora de Deus em sua vida.
 
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:    Cabana, A
Autoria:  William P. Young
Editora:  Sextante
Ano:       2008
Local:     Rio de Janeiro
Gênero:  Drama | Religião

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2017:


sábado, 3 de março de 2012

O Conde de Monte Cristo (Alexandre Dumas)

conde de monte cristo, o          A obra do renomado escritor francês Alexandre Dumas (pai) narra a incrível saga do marujo Edmundo Dantes que veio a se tornar o Conde de Monte Cristo. Vítima de uma conspiração, é encarcerado em uma prisão durante 14 anos em um castelo na Ilha de If. Sendo o prisioneiro 34, conhece aquele que estava encarcerado ao lado, o Abade Faria, conhecido como o 27. Este tinha fama de louco, pois vivia falando de um determinado tesouro e preenchia o tempo fazendo cálculos geométricos dentro de sua cela, a fim de encontrá-lo. Encontram-se pois, por meio de um túnel e tomam conhecimento da história de um e de outro. Um tempo depois, Abade Faria morre e Edmundo Dantés consegue fugir da prisão, fazendo-se de morto no saco em que o velho devia ser envolvido e atirado às águas do tenebroso mar, levando consigo apenas as instruções sobre o tesouro.
          Dantés sobrevivera à queda no mar e se colocou em busca daquilo de que o velho tanto lhe falara. Encontra assim, o tesouro na ilha de Monte Cristo. Ao retornar às suas origens, Monte Cristo provoca admiração em todos, despertando a curiosidade sobre quem seria o misterioso e incalculavelmente rico Conde de Monte Cristo. Quem era ele? De onde viera? O antigo marujo Dantés tinha agora dois importantes fatores que lhe fariam vingar-se dos inimigos e fazer justiça com as próprias mãos: riqueza e inteligência. A história se desenrola com uma trama de assassinatos e envenenamentos, na qual o Conde de Monte Cristo luta pelas causas justas, jurando vingar-se de seus inimigos mesmo contra todas as leis humanas e divinas.
          O Conde de Monte Cristo representa uma saga minuciosamente tecida em torno da figura do Conde. Impressiona a riqueza estratégica com que Monte Cristo planeja sua vingança, desde a fuga do Castelo de If, até a consumação de seus planos. Trata-se de uma busca em que o Conde leva consigo o seu próprio passado, encontrando na vingança, a remissão pela injustiça que lhe haviam feito. A reviravolta que acontece na vida de Dantés ao se tornar o Conde de Monte Cristo, deixa evidente a força de uma determinação e a importância de uma resolução tomada na vida, quando esta se torna a opção fundamental pela qual se vive e se age.
          Enfim, terminada sua trajetória, Monte Cristo endereça uma carta a um amigo dizendo: “[...] tenha plena certeza de que só os que padecem um extremo infortúnio estão aptos a usufruir uma extrema felicidade. É preciso ter querido morrer para saber o que vale a vida”. E como máxima de toda a sua busca, conclui: “Toda a sabedoria humana se resume nestas duas palavras: confiar e esperar!".
 
DUMAS, Alexandre. O Conde de Monte Cristo. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1971. 200 pgs.
 
Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2002: